segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Uma breve reflexão sobre o Natal


A imagem pode conter: 1 pessoa
Por Kadu Santoro

Enfim, chegamos em mais um final de ano, contemplando o encerramento de mais um ciclo de 12 meses. Nesse último mês de dezembro, mesmo não correspondendo à realidade dos fatos históricos, teológicos e astronômicos, ficou convencionado pela Igreja Católica Romana, baseado no culto ao Sol Invictus no império romano, o dia 25 de dezembro como o dia do advento natalino, o dia em que Jesus, O Cristo teria vindo ao mundo na cidade de Belém na palestina.

O meu ponto de vista sobre o advento do Natal, vai muito além das interpretações históricas e literais convencionadas ao longo dos séculos pela tradição eclesiástica. Até porque, não me prendo de forma alguma à forma, e sim, a essência desse acontecimento que na verdade acontece dentro de cada um de nós, como uma verdadeira teofania.

Infelizmente, toda essa expectativa em relação ao Natal, como ficou convencionado até os nossos dias de maneira totalmente distorcida e sem sentido, só é de interesse ao comércio, pois é um período altamente lucrativo. É um período onde o consumismo desenfreado fala mais alto e as pessoas voltam-se totalmente para as compras de iguarias, presentes e lembrancinhas para todos os gostos.

Para começar falar sobre o Natal, é preciso antes compreender o sentido alegórico das passagens em torno do advento do nascimento de Jesus, O Cristo, pouco se importando com fatos históricos, e sim, com a simbologia pertinente a cada personagem descrito principalmente na narrativa do Evangelho de Mateus. Vou citar alguns pontos para reflexão em um nível mais profundo sobre alguns desses personagens, de forma a despertar a nossa consciência para um processo de autoconhecimento, e assim, promover o grande advento dentro de cada um de nós.

Logo no início do Evangelho de Mateus, no segundo capítulo, fala o seguinte: “Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia, no tempo do rei Herodes, alguns magos do oriente, chegaram a Jerusalém, e perguntaram: “Onde está o recém-nascido rei dos Judeus? Nós vimos a sua estrela no Oriente, e viemos para prestar-lhe homenagem.”

Temos aqui três personagens para serem refletidos: o rei Herodes, os magos do Oriente e o recém-nascido. O recém-nascido, simboliza a novidade de vida do novo homem desperto, O Cristo interno ou força crística que é acolhido dentro de cada um de nós; o rei Herodes, aquele que determina a morte dos recém-nascidos, representa o nosso ego, que procura resistir ao nosso despertar e a nossa auto rendição, tentando de todas as formas impedir o irromper do novo homem. Os magos, conforme o princípio esotérico da Lei de Três: Belchior, Gaspar e Balthasar, representam os três níveis da alma humana: Belchior, o nível de Neshamah, correspondendo a nosso centro intelectual – simbolizado pela oferta de Ouro, pensamentos nobres e elevados, Gaspar, o centro emocional – Rúach, simbolizado pelo elemento Insenso, suavidade e fluidez de alma, e Balthasar, os nossos instintos, Nefesh, simbolizado pelo elemento Mirra, lembrando o amargor da nossa jornada carnal. Ambos vem contemplar o novo homem, demonstrando o total equilíbrio entre estes três centros constitutivos do Ser.

Quanto aos pais de Jesus: José e Maria, representam o aspecto dual, onde José está associado aos pensamentos, enquanto Maria aos sentimentos, logo, somente estabelecendo o equilíbrio entre os pensamentos e sentimentos, é que podemos gerar O Cristo, o novo, a nova consciência desperta.

Ainda, podemos falar sobre os animais presentes no cenáculo da manjedoura. O burro, o boi e o carneiro, ambos representam qualidades instintivas inerentes ao homem à serem superadas: o burro, às nossas teimosias; o boi a condição de indolência e o carneiro, a qualidade de ser identificado com os outros, onde todos vivem como rebanhos obedientes alienando-se de si mesmos sobre a sua verdadeira essência.

A estrela do Oriente que os magos seguiram, representa a centelha divina que habita em cada um de nós, também chamado em algumas tradições, de a Rosa do Coração, o Átomo Centelha do Espírito, etc.

O nascimento em um estábulo e o acolhimento em uma manjedoura, representa a pobreza e rudez do mundo material em contraste ao esplendor do mundo espiritual, em consonância com as palavras de Cristo a Pilatos, que o seu Reino não é desse mundo. Como na tradição budista em que o lótus, flor majestosa em beleza nasce em meio ao lodo pantanoso.

Ainda temos o Egito, local onde o Anjo do Senhor mandou a José que levasse o menino, que significa local de espera, exílio, momento esse que o indivíduo após despertar a consciência precisa passar, para superar as investidas de Herodes, o famigerado ego.

Depois de toda essa explanação em um nível hermenêutico amplamente profundo, apenas nos resta reconhecer que o advento do Natal, corresponde ao advento do despertamento da essência crística dentro de cada um de nós, cada qual a seu tempo, a ascensão do Novo Homem, isso que não tem um dia específico para acontecer e muito menos para celebrar, apenas manter essa chama acesa. Logo, os aniversariantes desse nascimento somos todos nós, aqueles que acolheram O Cristo em seu coração, como disse o Salmista: “Acolhi a tua palavra no meu coração, para eu não percar contra ti.” Samos 119.11

Desejo a todos um Natal pleno, repleto de saúde, paz profunda, amor e que a luz do seu Cristo interior venha a brilhar por todos os dias de sua vida, reinando sobre o velho homem.

domingo, 4 de novembro de 2018

OS MISTÉRIOS DO QUATERNÁRIO OU TÉTRADA NA CABALA

Imagem relacionada

Por Kadu Santoro

Quase todos os povos da antiguidade possuíam um nome para a deidade composto por quatro letras, pois consideravam o número quatro como divino, conforme relacionado abaixo:

ATUM - EGÍPCIO
AMON - EGÍPCIO
DEUS - CRISTÃO
YHWH - HEBREU
ALLA - ÁRABES
ZEUS - GREGOS
ADAD - ASSÍRIOS
AURA - PERSAS
TARO - SÁBIOS DA ÍNDIA
THMD - ENTRE OS MAGOS
GOTT - ALEMÃO
DIEU - FRANCÊS
IEVO - EM SANCHONIATHON
IAOU - EM CLEMENTE DE ALEXANDRIA
AGLA - O NOME DE PODER RABÍNICO
TORÁ - A PALAVRA DE DEUS DOS HEBREUS
AMOR - A MAIOR EXPRESSÃO DO UNIVERSO

São inúmeras associações com o número quatro, vamos ver algumas:

Enquanto o número três consiste na manifestação, o quatro é o número da realização.
Na Árvore da Vida, corresponde à quarta sefirot, Chesed, que significa misericórdia, por isso os nomes de Deus possuem quatro letras, pois só Ele é Misericordioso, como diz no segundo menor versículo da Bíblia, no Novo Testamento, que Deus é Amor, e ainda são quatro os Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João; quatro os cavalheiros do Apocalipse, os quatro animais consagrados na visão do Profeta Ezequiel: leão, águia, homem e o bezerro; quatro arcanjos: Miguel, Gabriel, Uriel e Rafael; quatro rios do Éden: Gion, Pison, Tigre e Eufrates.

Na ciência, fundamentalmente no campo da física, o universo é regido por quatro forças: força gravitacional, força eletromagnética, força nuclear forte e força nuclear fraca, assim como os antigos gregos já falavam sobre os quatro elementos constitutivos do universo: fogo, ar, água e terra; quatro elementos da metafísica: ser, essência, virtude e ação; Plutarco fala do quaternário duplo: quatro do mundo intelectual: T’agathon, Nous, Psyche e Hyle, ou seja, Suprema Sabedoria: Bondade, mente, alma e matéria, e quatro do mundo sensível formado o Cosmos: Terra, Fogo, Água e Ar; As célebres quatro causas de Aristóteles: A divindade como causa, a matéria, a forma e o efeito com referência ao qual.

Na matemática, encontramos as quatro operações numéricas responsáveis por toda a engenharia do universo físico: adição, subtração, multiplicação e divisão.
Na Cabala o número quatro representa os quatro mundos: Atziluth (emanção), Briah (criação). Yetzirah (formação) e Assiah (ação), as quatro letras do Tetragramaton IHWH, o Pardes – quatro níveis de interpretação das Escrituras Sagradas.

Na natureza encontramos as quatro estações do ano: primavera, verão, outono e inverno; um mês formado por quatro semanas e um ano que divido por três dá quatro meses; A Terra foi formada no quarto dia da criação conforme o livro do Gênesis; segundo os gnósticos, todo o edifício se descansava sobre quatro bases: verdade, inteligência, silêncio e sentimento; são quatro as estações da lua: crescente, minguante, nova e cheia.

No Alfabeto Hebraico, a quarta letra é DALET, que possui três significados distintos porém complementares cabalisticamente falando: Pobre, Porta e o verbo Levanta. A convergência desses três significados ocorre quando cada indivíduo percebe-se o quanto ele é POBRE, não no sentido financeiro, mas que tudo o que ele “possui”, pertence a Deus. Deus foi bom o suficiente para nos dar o dom da vida. Também nos deu o suficiente para o sustento, e sem Ele nada somos. O reconhecimento disto é a PORTA para a câmara de Deus. E uma vez que tenhamos entrado nesta câmara, Deus nos LEVANTARÁ (dilitani em aramaico). Se colocarmos essa frase ao contrário, podemos dizer da seguinte forma: Dilitani – “Porque Deus me eleva, Eu louvo a Ele. “Nesta expressão, Deus me eleva dando-me o talento para ser produtivo. Isso me permite louvar a Ele a partir de um nível mais elevado e não como ordinariamente fazem em muitas igrejas, louvando a Deus com a boca e colocando as mãos em seu “bolso”.

Também encontramos quatro expressões de redenção na Torá, quando Deus livrou o povo da escravidão (ignorância) do Egito: “Eu vos tirarei”; “Eu vos salvei”; “Eu vos redimirei” e “Eu vos tomarei par Mim como nação.”

Quatro qualidades sensoriais: frio, quente, seco e úmido; No campo da magia encontramos os quatro elementais da natureza: Silfos (Ar), Salamandras (Fogo), Ondinas (Água) e Elfos ou Gnomos (Terra); os quatro pontos cardeais: Norte, Sul, Leste e Oeste.

Ainda na Cabala, conforme o Talmude só quatro homens entraram no Paraíso (PARDES, o Jardim da Santidade); isto significava o estado de comunhão suprema com Deus, a Visão Beatífica, mediante profunda abstração da mente. Eles foram os Rabis Ben Azai, Ben Zoma, Asher e Akiva; o número quatro também está relacionado na Cabala à Jacó, o luminar menor, que é a Lua. Jacó se escrevia IOQB, e suas iniciais são as dos nomes IUTZR, o Formador; OUShH, o Fazedor; QUNA, o Possuidor; e BVRA, o Criador. Veja no Profeta Amós 7:2, onde ele chama Jacó de “pequeno”.

Sendo o número quatro o complemento do grupo quaternário de ponto, linha, superfície e corpo, tem também este caráter segundo o qual seus elementos 1, 2, 3, e 4, quando somados, são iguais a 10, número tão perfeito que, para ir além, precisamos voltar à mônada, ou seja o Um Absoluto.

Poderia ficar aqui por muito tempo, mas deixo para uma nova explanação a curiosidade do número cinco e suas “coincidências”, como por exemplo o número dos avatares, enviados de Deus:

ADÃO = 5 LETRAS
JESUS = 5 LETRAS
HORUS = 5 LETRAS
MITRA = 5 LETRAS
APOLO = 5 LETRAS


segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A onipresença da Cabala

Resultado de imagem para onipresença de deus

Por Kadu Santoro

“o que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol.” Eclesiastes 1:9

“Tudo aquilo que um ser humano pode aprender neste mundo já é conhecido por sua alma, antes de descer a ele.” Rabi Chia

Partindo dessas duas reflexões, podemos perceber que a Cabala não nos ensina nada de novo, nada que não já esteja gravado em nossa alma desde a criação do universo. O que a Cabala nos oferece, é apenas a possibilidade de despertar para essa realidade, que sempre foi, é e continuará sendo, assim como o sol que nasce e se põe todos os dias.

A palavra Cabala, provém do verbo lecabel, que significa recebimento ou transmissão, mas não de um conjunto de práticas mágicas e receitas milagrosas como muitos imaginam, e sim, os mecanismos para o despertamento através do autoconhecimento. A partir dos pressupostos cabalísticos e seu escopo de ensinamentos, podemos ampliar a nossa percepção da realidade, compreendendo que tudo e todas as coisas encontram-se aqui e agora simultaneamente conforme a física quântica nos demonstra, sendo apenas necessário sabermos acessá-las de forma correta. O conceito cabalístico desse acesso às realidades superiores se dá através da intenção de compartilhar, contrária à intenção de desejar apenas para si, o egoísmo, pois quando intencionamos ou desejamos algo apenas para o nosso próprio prazer e deleite, só para si mesmo, isso não se sustenta, é como um vapor, um sopro, logo se dilui, já quando nossos desejos são de ordem mais elevada, visando não apenas o bem próprio mas se estendendo a todos que encontram-se interligados a nós, essa realidade se prolonga de maneira a estabelecer novas conexões e assim criando um grande campo energético distribuindo a luz abundante a todos.

O fenômeno mais interessante que acontece àqueles que iniciam-se no caminho da Cabala, é o fato de que logo que se aproximam desses ensinamentos, sentem-se totalmente identificados com eles, de forma a dizerem que tiveram a impressão de que já conheciam de muito tempo. E isso é uma realidade, pois a Cabala opera no sistema do nosso DNA espiritual, ligada ao grande arquivo celeste, em Da’at, onde se pode encontrar todo o conhecimento sobre tudo e todas as coisas. Nossa alma é a grande “matrix” onde podemos acessar todas as coisas por meio do despertamento da luz provinda de Ain Sof.

Outro aspecto muito poderoso da Cabala no campo do conhecimento, é a capacidade de conduzir-nos aos níveis mais profundos de entendimento dos segredos esotéricos encerrados nos códigos da Bíblia, na semântica das letras e nos demais livros sagrados do mundo, através de métodos interpretativos apropriados e meditações, de forma a despertar interpretações profundíssimas no nível do inconsciente, o grande portador dos Arcanos e Mistérios do universo. O poder da Cabala consiste no autoconhecimento, fora desse caminho só resta mistificações e devaneios egocêntricos.

sábado, 8 de setembro de 2018

A antiguidade da Cabala


Resultado de imagem para tree of life kabbalah
Por Kadu Santoro

A Cabala consiste no mais antigo ramo do esoterismo universal. Encontramos as provas dessa universalidade no Egito, na Índia, na China, nas nações semíticas do oriente médio, entre os gregos e romanos, assim como nos povos ameríndios da América Central e até nas ilhas do Pacífico. Essas evidências nos levam à hipótese de que a Cabala devia ser praticada pelos habitantes da antiga civilização da Atlântida, e através deles essa cultura teria sido disseminada aos quatro cantos do mundo pelo mar, como na hipótese dos argonautas do deserto defendida pelo pesquisador judeu Philippe Wajdenbaum, chegando ao hebreus e aos povos do crescente fértil (Mesopotâmia) por volta de 3.500 a.C.

A sistemática estrutural da Cabala obedece à forma do pensamento universal, usando para isso uma linguagem simbólica  concreta para a expressão do abstrato e transcendente, de acordo com a teoria dos arquétipos de Jung. O simbolismo consiste na linguagem comum da humanidade, como o é também dos “Deuses”.

Os princípios cabalísticos sempre foram expressos de forma codificada através dos símbolos, das cosmogonias, dos mitos, folclores e fábulas do mundo inteiro. Todo o panteão de divindades representam na verdade um conjunto de personalidades inerentes ao ser humano, ou seja, todos os “deuses” encontram-se dentro de cada um de nós e se manifestam de acordo com às variantes de personalidades.

Estudar a Cabala significa estudar a história das nossas origens ancestrais e o seu desenvolvimento ao longo das eras, respeitando os pressupostos das verdades de cada época. Os princípios foram, são e continuam sendo os mesmos, porém,  o que varia são apenas os contextos culturais de cada época dentro de cada grupo.

As religiões antigas e as Escolas de Mistérios preservaram esses conhecimentos de forma oculta, restrita apenas a uma pequena classe de adeptos devidamente aptos a receber esses ensinamentos, chamados no esoterismo de Iniciados ou Neófitos, restando ao povo apenas uma religiosidade superficial pautada em rituais, cerimônias e observâncias.

Segundo o Sefer Yetzirah, o Livro da Formação, a Cabala é mais antiga do que a humanidade, sendo essa a própria revelação e manifestação da vontade divina para o desenvolvimento do universo em todas as suas dimensões.

domingo, 19 de agosto de 2018

Aprenda a linguagem do silêncio

Resultado de imagem para silencio meditação

Você sempre permaneceu unido apenas informalmente, e quando está unido formalmente a alguém pode continuar enganando a respeito de mil e uma coisas disparatadas, porque nada importa — é só um passatempo.

Mas quando você começa a se sentir mais próximo de alguém surge uma intimidade, então até mesmo uma simples palavra que pronuncie é importante. Então você não pode brincar com as palavras com tanta facilidade, porque agora tudo tem significado.

Portanto, haverá lacunas de silêncio. A princípio você se sentirá estranho, porque não está acostumado ao silêncio. Você acha que deve dizer algo; do contrário, o que o outro irá pensar?

Sempre que você se aproxima de alguém, sempre que há algum tipo de amor, o silêncio vem e não há nada a dizer. Na verdade, não há nada a dizer — não há nada. Com um estranho, há muito a dizer; com os amigos, nada a dizer. E o silêncio se torna pesado porque você não está acostumado com ele.

Você não sabe o que é a música do silêncio. Você só conhece uma maneira de se comunicar, e essa é verbal, por intermédio da mente. Você não sabe como se comunicar por intermédio do coração, coração a coração, em silêncio.

Você não sabe como se comunicar apenas estando ali presente, por intermédio da sua presença. Você está evoluindo, e os padrões antigos de comunicação estão ficando insuficientes. Você terá de desenvolver novos padrões de comunicação não-verbal. Quanto mais alguém amadurece, mais necessária é a comunicação não-verbal.

A linguagem é necessária porque não sabemos como nos comunicar. Quando sabemos como fazê-lo, pouco a pouco, a linguagem não é necessária. A linguagem é apenas um meio muito primário. O meio verdadeiro é o silêncio.

Portanto, não tome uma atitude errada; do contrário, irá parar de crescer. Nada faz falta quando a linguagem começa a desaparecer; essa é uma ideia errada. Algo novo tem de aparecer, e os antigos padrões não são suficientes para contê-lo.

Você está crescendo e suas roupas estão ficando apertadas. Não é que esteja faltando algo; algo está sendo acrescentado a você a cada dia.

Quanto mais você medita, mais você ama e mais se relaciona. E, por fim, chega o momento em que apenas o silêncio convém. Assim, da próxima vez em que estiver com alguém e não estiver se comunicando com palavras, e sentir-se pouco à vontade, fique feliz. Mantenha o silêncio e deixe que o silêncio estabeleça a comunicação.

A linguagem é necessária para aproximar pessoas com quem você não tem um relacionamento amoroso. A não-linguagem é necessária para pessoas com quem você tem um relacionamento amoroso.

É preciso tornar-se inocente outra vez como uma criança, e calado. Os gestos sairão — às vezes vocês sorriem e dão-se as mãos, ou às vezes vocês apenas ficam em silêncio, olhando um nos olhos do outro, sem fazer nada, só estando ali, presentes.

As presenças se encontram e se fundem, e algo acontece que só vocês sabem. Só vocês, com quem está acontecendo — ninguém mais vai saber, tal a profundidade em que acontece.

Aproveite esse silêncio; sinta-o, prove-o e saboreie-o. Logo você vai ver que ele tem a sua própria comunicação; que ela é maior, mais elevada, mais secreta e mais profunda. E que a comunicação é sagrada; há uma pureza em torno dela.

Osho, em "Intimidade: Como Confiar em Si Mesmo e nos Outros"

terça-feira, 3 de julho de 2018

Quatro chaves para a transformação pessoal segundo a Cabala



 Por Kadu Santoro

Vou falar um pouco sobre o processo de revolução pessoal oferecido pela Cabala de forma bem reflexiva e menos pragmática como encontramos por aí onde tudo se parece muito fácil e num piscar de olhos tudo muda como mágica, pois todos nós merecemos o devido respeito e atenção diante de tantos obstáculos e sofrimentos que enfrentamos cotidianamente durante a nossa jornada aqui em Malchut.

A primeira chave do processo de transformação é chamada Emuná (crença), onde é necessário que você credite (e não a-credite, pois o “a” conota negação como nas palavras a-teu e a-gnóstico) que possa haver uma possibilidade de mudança. Porém, essa crença não pode ser pautada em nossos desejos alimentados pelo ego, e sim, como diz o pregador de Hebreus na Bíblia: “Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.” Hebreus 11.1. Isso quer dizer que é preciso antes de tudo estarmos totalmente abertos às forças da criação, termos a confiança de que o Criador está no controle de tudo e que nada, mas nada mesmo acontece por acaso. É interessante, que ao mesmo tempo, durante todo o processo, é preciso nos livrarmos de todas as crenças limitantes e racionais, seja de que ordem for para nos abrirmos ao grande fluxo da vida para sermos preenchidos pela luz abundante, indiferente do que aconteça, pois no plano maior não existe bem nem mal, apenas o cumprimento e a realização do processo das coisas como devem ser segundo as leis cósmicas. Lembre-se sempre da frase de Jung: “Queremos ter certezas e não dúvidas, resultados e não experiências, mas nem mesmo percebemos que as certezas só podem surgir através das dúvidas e os resultados somente através das experiências.”

A segunda chave é o Ratson (vontade). Para começarmos essa explanação sobre vontade é preciso em primeiro lugar diferenciarmos dois conceitos, vontade e desejo. Resumidamente podemos dizer que vontade é potência, auto-estímulo, cultivo, enquanto desejo consiste em falta, ausência e carência de. Aqui já encontramos um caminho a seguir. Poucos questionam sobre essa diferença, e sem reflexão sobre isso, agimos por impulso e não percebemos que estes impulsos de ordem desejante e reativa, é resultante do que sentimos. Vontade não é desejo. Desejos são reações de ordem emocional a estímulos externos, ou seja alguma coisa desperta em você uma reação. Os desejos assim como as paixões e os apegos são causa de todos os nossos sofrimentos. Já a vontade, é o seu verdadeiro potencial em busca de expressão, é a sua capacidade de executar determinada ação tentando comunicar-se consigo mesmo, com o objetivo de exteriorizar aquilo que você sabe. É por meio da manifestação da vontade que você pode extrair forças para produzir as realizações necessárias em sua vida.

A terceira chave corresponde ao Avodá (trabalho), que consiste no esforço empenhado em prol da realização da vontade. Você deve praticar um programa de introspecção, ou seja, é o processo em que você começa por meio da razão e do intelecto a conceber as etapas por onde começar a executar seus projetos. É uma etapa importante, pois nela você pode mudar, alterar, modificar os processos de forma a atingir a meta desejada de acordo com a vontade inicial. Essa etapa requer muito esforço, e durante esse processo do trabalho, é o momento em que devemos estar bem atentos às forças contrárias, que se levantam com toda astúcia para nos tirarmos do nosso centro motivacional, despertando desânimo e falta de sentido. É um momento que requer muita perseverança, ainda mais nos dias atuais, tão difíceis de mantermo-nos serenos e persistentes. Para essa etapa a palavra de encorajamento também se encontra na Bíblia: “Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo por onde quer que andares.” Josué 1.9.

A quarta e última chave consiste no Oneg (prazer). A satisfação e a alegria após a realização do trabalho sempre deve ser comemorada com sucesso. Sem prazer ninguém consegue realizar nada direito, por isso que a palavra de ordem nessa quarta etapa é motivação, isso mesmo, é fundamental para a nossa saúde física, mental, emocional e espiritual estarmos motivados, pois isso desperta todas as enzimas necessárias para o pleno andamento do nosso corpo. Uma pessoa motivada produz muito mais serotonina e cortisol (agentes antidepressivos orgânicos) que uma pessoa desmotivada. Para muitas correntes filosófico religiosas, o prazer é causa de sofrimento e escravidão, porém, para a Cabala, não há problema algum com o prazer, a partir do momento em que você o redireciona para coisas sadias e construtivas, de forma a proporcionar experiências fantásticas tanto a nível individual quanto coletivo, pois quando despertamos o nosso messias interior, logo regozijamos e transbordamos essa alegria a todos em nossa volta, promovendo o despertar do messias coletivo de forma a promover a elevação da massa crítica planetária através de sublimes realizações. Esse prazer (Oneg) representa em sentido mais profundo da palavra Shalom, plenitude, ou seja, que tudo, apesar das dificuldades, encontram-se sob o controle do Eterno por meio de suas leis imutáveis como é citado no Salmo: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos perversos, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.” Salmo 1.1,2.

Quanto mais nos aprofundamos no estudo da Cabala, com propósito sincero no coração, disciplina e espírito de compartilhar, todas essas etapas se revelam a nós de forma nítida. Não estou dizendo que esse processo de transformação seja fácil, pelo contrário, é conquistado com muito sacrifício como Jesus disse: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” João 16.33, porém, se percebermos a origem da palavra sacrifício, sacro-ofício, percebemos que todo esforço voluntário é em causa nobre, sagrada, um ofício sagrado, que como resultado consiste em nosso despertar da consciência, da salvação da nossa porção eterna, a elevação do nosso espírito para níveis mais sutis do universo. Lembre-se das sábias palavras de Jesus, o mestre cabalista: “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” Mateus 7.13,14.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Aspectos comuns entre os mitos do Grande Dilúvio, a Torre de Babel e a destruição de Sodoma de Gomorra.



 Por Kadu Santoro

Sabemos que as narrativas bíblicas consistem em um verdadeiro caleidoscópio de interpretações, nos permitindo observar os textos por vários ângulos e abordagens. Aqui nesse artigo eu venho apresentar uma abordagem sobre os mitos de Bereshit (Gênesis) dentro da perspectiva da Cabala.

Apesar desses três temas míticos mencionados no título encontrarem-se separados na ordem da Torá, eles falam basicamente sobre a mesma coisa, ou seja, procuram expressar a mesma ideia da qual vamos falar de agora em diante.

O Grande Dilúvio, com certeza é um dos mitos mais reproduzidos nas diversas culturas, principalmente na região da mesopotâmia no oriente médio. Podemos encontrar referências na Epopéia de Gilgamesh entre outros textos. Porém, seguindo o foco da interpretação cabalística, o Grande Dilúvio consiste em uma alegoria sobre a queda da civilização e da destruição da “cultura”, onde esse acontecimento nos remete a uma aniquilação de uma grande parte da raça humana, fruto provavelmente de cataclismos geológicos, guerras, migrações de povos, epidemias, revoluções ou causas semelhantes. Muitas vezes essas causas coincidem. A ideia da alegoria é que, no momento da aparente destruição, o que era realmente de significativo valor acaba sendo salvo, preservado de acordo com um plano previamente calculado e pensado. Um pequeno grupo de homens escapa da lei geral, salvando todas as ideias e conquistas mais importantes de sua cultura.

A lenda da Arca de Noé consiste em um mito com fundamento esotérico, onde a construção da “Arca” representa a “escola”, a preparação dos homens para a iniciação (dentro de uma visão pitagórica), para a transição de uma nova vida, para um novo nascimento. A Arca que se salva do dilúvio representa o círculo interior da humanidade (aqueles que se encontram despertos).

O segundo significado da alegoria se refere ao homem como indivíduo, onde o dilúvio consiste na morte inevitável. Porém, o homem pode construir dentro se si uma “Arca” e nela reunir espécimes de tudo o que é valioso nele. Em tal situação, esses espécimes não perecerão e sobreviverão à morte e nascerão novamente. Do mesmo modo que a humanidade pode se salvar somente graças à sua ligação com o círculo interior (esotérico), o homem pode alcançar a “salvação” pessoal somente por meio de uma união com o seu próprio círculo interno, isto é, mediante a sua ligação com as formas superiores de consciência.

O segundo mito, o da Torre de Babel, consiste em uma outra versão do primeiro; este, porém, fala de salvação, ou seja, dos que serão salvos, ao passo que o segundo fala apenas de destruição, sobre os que perecerão.

A torre de Babel representa a cultura, onde os homens desejam construir uma torre de pedra “cujo topo toque os céus” criando uma vida “ideal” na Terra. Crêem nos métodos intelectuais, nos mais diversos procedimentos técnicos, nas instituições formais, etc. Ao longo de muito tempo a torre vai subindo cada vez mais sobre a superfície da Terra. Mas chega inevitavelmente o momento em que os homens deixam de se compreender mutuamente, ou melhor, tomam ciência de que nunca o fizeram, pois cada um deles compreende ao seu modo a vida ideal na Terra. Cada qual quer levar a cabo as suas próprias concepções realizando o seu próprio ideal. Este é o momento em que começa toda a “confusão das línguas”. Os homens deixam de se compreender até nas coisas mais simples; a falta de compreensão provoca discórdias, hostilidade e lutas. Os homens que constroem a torre começam a se matar reciprocamente e a destruir o que juntos construíram e finalmente a torre cai em ruínas.

Essa mesma situação ocorre na vida de toda a humanidade, dos povos, das nações e na vida do próprio homem como indivíduo. Cada homem constrói uma Torre da Babel em sua própria vida. Os seus esforços, as suas metas e objetivos na vida, as suas conquistas, tudo isso representa a sua torre. Porém, é inevitável o momento em que a torre cairá. Um pequeno choque, um acidente, uma doença, um pequeno erro de cálculo, e tudo vai abaixo. Quando o homem cai nessa situação, percebe que é tarde demais para corrigi-lo ou alterá-lo. Ou então chega um momento, durante a construção da torre, em que os “eus” múltiplos e diferentes da personalidade de um homem perdem a confiança uns nos outros, vêem todas às contradições dos seus desejos e metas, vêem que não tem nenhuma meta comum, deixam de se compreender mutuamente, ou mais exatamente, deixam de pensar que compreendem. Então, a torre deve cair, a meta ilusória deve por fim desaparecer, e o homem deve sentir que tudo que fez foi infrutífero, que não o conduziu a nada e não podia levar a nada e que diante dele há apenas um fato real – a morte.

Toda a vida do homem, o acúmulo de poder, prestígio, riquezas, conhecimento, equivale à construção de uma Torre de Babel, porque o fim é terminar numa catástrofe, a saber, em morte, que é o destino de tudo que não pode passar a um novo plano de ser.

O terceiro mito, o da destruição de Sodoma e Gomorra, nos mostra de forma mais nítida o que os outros dois nos mostram, sobre o momento da interferência das forças superiores e as causas dessa interferência. Deus concordou em poupar Sodoma e Gomorra graças à cinquenta, quarenta e cinco, trinta, vinte e finalmente dez homens justos. Porém, nem dez homens justos foram encontrados e assim as duas cidades ruíram. A possiblidade de evolução fora perdida. O “Grande Laboratório da Vida” pôs fim à experiência frustrada. Mas Ló e a sua família foram salvos. A ideia é a mesma dos outros dois mitos, porém enfatiza, de modo especial, a disposição da vontade diretora de fazer toda as concessões possíveis, enquanto houver a esperança de realização dos objetivos estabelecidos para a humanidade. Desaparecida essa esperança, a vontade orientadora deverá intervir de forma inevitável, com o intuito de salvar o que merece salvação, deixando que todo o resto seja eliminado.

Todos esses mitos, a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden, a queda da Torre de Babel, o Grande Dilúvio, a destruição de Sodoma e Gomorra, são todas lendas e alegorias relativas à história da raça humana e seu processo de evolução. Além dessas lendas e muitas outras semelhantes, quase todas as raças tem lendas, contos e mitos de estranhos seres não humanos, que passaram pelo mesmo caminho antes do homem, como disse Joseph Campbell: "Não precisamos correr sozinhos o risco da aventura, pois os heróis de todos os tempos a enfrentaram antes de nós. O labirinto é conhecido em toda a sua extensão. Temos apenas de seguir a trilha do herói, e lá, onde temíamos encontrar algo abominável, encontraremos a nós mesmos. Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ter ao centro da nossa própria existência. E lá, onde pensávamos estar sós, estaremos na companhia do mundo todo." A saga do Herói. A queda dos anjos, dos Titãs, dos deuses que ousaram desafiar outros deuses mais poderosos, a queda de Lúcifer, o demônio ou Satã (que no aramaico significa oponente ou aquele que acusa), são todas quedas que antecederam a queda do homem. E é um fato indubitável que a significação de todos estes mitos está profundamente oculta para nós, e extremamente nítido que às interpretações teológicas e teosóficas comuns nada podem explicar, porque estabelecem a necessidade do reconhecimento da existência de raças ou espíritos invisíveis, que são, ao mesmo tempo, semelhantes ao homem nas relações que tem com as forças superiores. A insuficiência para tais explicações é evidente. Porém, ao mesmo tempo seria um grande equívoco deixar todos esses mitos sem nenhuma reflexão, porque, devido à sua persistência e repetição, entre os diferentes povos e raças, parecem de alguma forma atrair a nossa atenção para certos fenômenos o qual não conhecemos, mas devemos buscar conhecê-los.

O mais interessante é que as lendas e os cantos épicos de todas as culturas encerram muito material referente aos seres não-humanos que precederam o homem ou que até mesmo existiram ao mesmo tempo que ele, mas diferiam do homem em diversos aspectos. Esse material é tão abundante e significativo, a ponto de colocar as religiões em uma saia justa, que não tentar explicar esses mitos seria fechar intencionalmente os olhos a algo que deveríamos enxergar. A menos que queiramos ignorar inúmeros fatos ou crer em espíritos tridimensionais, capazes de construir edifícios de pedra, devemos supor que as raças pré-humanas eram tão físicas quanto o homem, e teriam vivido, como este dentro do Grande Laboratório da Natureza; compreendendo que a natureza teria realizado muitas tentativas para criar seres auto-evolutivos antes do próprio homo sapiens. E, além disso, devemos supor que tais criaturas foram lançados na vida pelo Grande Laboratório, porém, não conseguiram satisfazer a natureza em seu desenvolvimento posterior e, em lugar de realizar os desígnios da natureza, se voltaram contra ela. Logo, a natureza teria abandonado a sua experiência com eles e deu início a um novo projeto.

O que eu proponho nesse artigo, é chamar a atenção dos leitores para níveis de interpretações mais profundos a respeito dos mitos, fábulas e lendas, de forma a despertar a consciência para novos horizontes e perspectivas a respeito das relações entre esses (mitos e lendas) e o desenvolvimento da raça humana com todos os seus aspectos emocionais, intelectuais, instintivos e espirituais, a fim estabelecermos novos rumos para a nossa evolução consciente rumo à transcendência como diz Jung: “O indivíduo não realiza o sentido da sua vida se não conseguir colocar o seu Eu a serviço de uma ordem espiritual e sobre-humana.”

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Até quando?

Resultado de imagem para caveiras surda muda e cega
Por Kadu Santoro

Até quando iremos continuar nos iludindo, evitando o encontro real conosco. Até quando vamos continuar buscando prazeres e satisfazendo desejos efêmeros, servindo como escravos das corporações, instituições e políticas perversas. Enquanto continuarmos dormindo e sendo conduzidos pelos nossos desejos e vontades, eles, os lá de cima, o 1% da população global continuarão nos manipulando.

Até quando vamos ficar ocupados apenas com partidas de futebol, baladas, churrascos, cervejadas, sexo descontrolado, com passeios em shoppings centers alimentando os desejos por coisas que na maioria das vezes são totalmente desnecessárias. 

Até quando vamos ficar preocupados com as vaidades da aparência, com o status ou com a compra de um novo carro. Até quando vamos viver escravos dos cartões de crédito, das selfies e das redes sociais, dos entretenimentos de massa que são verdadeiros shows de pão e circo, com atrações fúteis e esvaziadas de sentido edificante. 

Até quando vamos continuar preocupados em fazer unhas e cabelos todas as semanas se nem observamos para nós mesmos, colecionar pares de sapatos, gravatas e vestuários em demasia. Até quando vamos continuar acreditando em tudo o que nos é falado, sem passar por um profundo processo de reflexão. 

Até quando vamos continuar obedientes e servis às corporações e aos poderes dominantes do mundo, esses 1% que usufruem de mais de 70% dos recursos deixando um pouco menos de 30% para 7 bilhões de pessoas brigarem entre si, ainda levando em conta que mais de dois bilhões estão morrendo nesse exato momento de fome e totalmente abandonados, carentes de saneamento básico e a mínima infra estrutura para sobrevivência. 

Até quando vamos continuar preocupados com embates políticos entre partidos e ideologias que nunca deram certo a não ser para a turma lá de cima, pois não precisamos de partidos, precisamos de inteiros, pessoas plenas em si e em comunhão com o próximo. Até quando vamos continuar vivendo e ensinando nossos filhos a competir, ao invés de promover o encontro e a partilha entre todos os seres de forma harmônica. 

Até quando vamos continuar brigando uns com os outros sem perceber que isso é uma estratégia de instaurar desarmonia na sociedade para que enquanto isso a turma do 1% possa trabalhar sem ser percebido. Até quando vamos continuar aceitando um sistema educacional que não ensina valores e estimula a criatividade, e o ser a pensar por si, apenas a ser mais um obediente eficiente trabalhando para uma corporação como um verdadeiro robô. 

Até quando vamos continuar sendo envenenados pelas indústrias farmacêuticas, alimentícias e químicas com seus fertilizantes assassinos. Até quando vamos continuar achando que a solução do mundo é dinheiro e poder, enquanto não conhecemos nem 1% do que somos. Até quando vamos continuar discutindo por coisas fúteis enquanto estamos perdendo a grande oportunidade de conversarmos com nós mesmos, procurando entender quem realmente somos e qual o nosso papel aqui nessa existência passageira. 

Até quando vamos continuar buscando incessantemente ter ao invés de ser. Até quando vamos continuar achando que esse é o único mundo possível, o mundo da matéria, ignorando as inúmeras dimensões espalhadas pelo o universo, e que não somos daqui, apenas estamos de passagem. Até quando vamos continuar preferindo a pílula vermelha nos iludindo na matrix, acreditando nas velhas promessas mentirosas dos sacerdotes e políticos, que não passam de verdadeiros exploradores da fé alheia. 

Até quando vamos continuar perdendo tempo narcotizados em frente à tela da televisão ao invés de buscar uma leitura edificante ou simplesmente um encontro a só consigo mesmo através de 10 ou 15 minutos de recolhimento interior, com o único objetivo de estar na Presença do seu Ser Superior. Até quando vamos continuar extremamente ruidosos e trasbordando de tanto entulho emocional ao invés de desentulhar-se e permitir o silêncio restaurador. 

Até quando vamos continuar vivendo sem perceber e contemplar a natureza que nos cerca, nossa mãe e mantenedora. Até quando vamos viver pensando no dia de amanhã se não estamos presente no agora e ainda escravos do passado. Até quando vamos continuar achando que a solução para todos os problemas encontram-se fora, ao invés de perceber que a solução está bem perto de nós, dentro de cada um. Até quando vamos ser iludidos de que estudar, ter um bom emprego e estabilidade financeira é a solução dos problemas, se assim fosse não víamos tanto suicídio e depressão nas classes abastadas. 

Até quando vamos continuar enriquecendo as indústrias de cosméticos acreditando na fórmula da juventude, e que esse corpo nunca irá degradar, pois esse é o ritmo natural da existência, como Buda disse que todo composto é perecível. Até quando vamos achar que estamos no controle das coisas, enquanto não conseguimos nem controlar nossos impulsos e desejos ardentes. Até quando vamos continuar discutindo sobre Deus enquanto devíamos estar buscando experimentá-lo. 

Até quando vamos continuar alimentando apenas a forma e esquecendo-se da essência. Até quando vamos continuar vivendo na ilusão de que algum dia seremos felizes pelo que temos e conquistamos ao invés de saber que a felicidade é um estado de plenitude interior e não uma condição instituída. Acorda humanos! Por mais de dois mil anos continuamos dormindo e sendo manipulados, sabotados por nós mesmos na maioria das vezes, cada vez mais para fora, esquecendo que a verdadeira vida encontra-se dentro de nós, portadores da poeira cósmica desde o início até o agora e em diante.


quarta-feira, 2 de maio de 2018

Uma análise cabalística da alegoria de Noé e o Dilúvio


Por Kadu Santoro

Toda a narrativa bíblica possui múltiplas interpretações, pois foi com esse propósito que ela foi escrita como a chave de todas as coisas e não meramente como explanação de um único mistério limitado hermeneuticamente através dos dogmas. Podemos dar como exemplo, quando estudamos a parte que fala da história de Noé e Sua Arca, estamos lidando com uma alegoria. Muitos mistérios da Bíblia não foram ainda compreendidos pela maioria dos estudantes, e não o serão totalmente até que a mente humana desperte proporções conscienciais mais elevadas.

A Bíblia é um livro codificado e continuará codificado até que o homem, pela purificação de seus corpos e o equilíbrio de sua mente, tenha fornecido à espada do discernimento (Hb. 4:12; Mt.10:34) de seu espírito o poder de cortar o Nó e, para isso, o peregrino precisa despender anos e talvez vidas tentando desatá-lo.

O mais interessante é que a verdadeira obra oculta não é secreta; ninguém está impedido de estudar e dominar às leis da Natureza, mas, até termos nos preparado pelo serviço e pelo altruísmo, seremos incapazes de compreender a grandeza, a pureza e a justiça do Plano Universal.

A Bíblia é um livro secreto pela mesma razão que o estudante nada pode ver além do mundo físico ou nos livros sagrados até que tenha desenvolvido olhos internos (despertar esotérico) para ver e apreciar os mistérios luminosos. Robert G. Ingersoll foi preciso nessa questão quando disse: "Um Deus honrado é a mais nobre obra do homem", pois, enquanto Deus for imutável segundo o conceito que d'Ele fazemos (visão dogmática limitante), Ele também será para nós limitado pelos nossos próprios ideais, e os mistérios nas literaturas sagradas estarão velados aos olhos daquele que só vê com a visão física, como diz o axioma hermético: “os lábios da sabedoria estão fechados, exceto aos ouvidos do entendimento.” (O Caibalion).

Retornando ao livro do Gênesis, que contém a narrativa da Arca e do Dilúvio, expresso nos capítulos 6; 7; 8 e 9, que devem ser lidos pelo buscador antes de continuar a leitura desta explanação.

Em primeiro lugar, consideremos o Dilúvio. Em todas as narrativas sagradas do mundo principalmente em suas cosmogonias, encontramos referência a ele e todas concordam com a época aproximada em que ele teria ocorrido. Estudando as religiões comparadas, certamente vamos nos lembrar da grande inundação que submergiu o que restava do continente Atlante cerca de nove mil anos antes de Cristo. Todas as inundações anteriores cobriram apenas uma parte da terra, e o pesquisador é forçado a procurar em outro lugar pela Grande Inundação ou Olvido de que se fala na Bíblia. Encontramos que a antiga palavra usada para inundação não significa necessariamente água, mas sim olvido ou esquecimento.

Uma das grandes leis da Natureza é a dos ciclos, em outras palavras, a lei de ação e repouso cíclicas. Sabemos ser necessário ao homem dormir todas as noites para se refazer de seus gastos de energia durante o dia. Sabemos que cada doação tem que ser balanceada por um recebimento, é o mesmo que acontece com o universo. Chega em um período em que o mundo precisa “descansar” após cada grande dia de manifestação. A isso se chama a Noite dos Deuses (Noite de Brahma). Nessa ocasião, todos os planetas e sóis retornam ao todo universal. Podemos observar esse processo acontecendo nas grandes nebulosas no céu. É então que Deus, o Criador, cessa de manifestar-se por um período de tempo antes de tornar a enviar globos nos quais deve se processar o desenvolvimento do homem. É quando Noé, representado como o Deus de nosso Sistema Solar, e seus três filhos, representam a tríplice trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e as três forças do universo: ativa, passiva e neutra, flutuam sobre o Olvido, carregando com eles todos os embriões de todas as coisas criadas que foram recolhidas para o Infinito e agora retornarão (Dia de Brahma).

Quando o universo é manifesto novamente, esses seres são levados para os orbes com cujas vibrações estejam afinados. O processo é o mesmo que é usado para o Ego dentro da psicologia, que contém em si todos os átomos sementes dos corpos inferiores. O Ego e a substância espiritual que o reveste constituem a Arca; os três filhos de Noé são os átomos sementes dos corpos inferiores e as esposas são os polos negativos desses átomos. Noé é a mente conforme o princípio hermético: “O Todo é Mente; o Universo é Mental.” A Arca com os átomos sementes flutua nessa matéria mental antes da descida novamente dos átomos na matéria por meio do renascimento.

Sabemos que o espírito é imortal. Os animais que são guiados para dentro da Arca representam a vida de todos os reinos que foi retirada para dentro de Deus e lá permanece até que planos de consciência sejam desenvolvidos para que a vida neles se manifeste.

Logo, a história da Arca é a história do Ego construindo os corpos que, quando completados, vão dar a ele consciência em todos os planos da Natureza. Os três filhos de Noé, como já mencionei, são os três corpos inferiores. Para que o homem funcione em qualquer plano da natureza, ele precisa ter um corpo sintonizado com aquele plano vibracional. A perda de consciência (queda) significa que o veículo que sintoniza o espírito com aquele plano foi retirado. Desde que os três corpos inferiores (Nefesh = Instintivo, Ruach = Emocional e Neshamah = Intelecutal) tenham sido construídos, o Ego sempre tem um veículo de expressão e nunca perde consciência em nenhum plano da natureza. É preciso que morra a multiplicidade de eus a serviço do Ego para que o nosso Eu Superior possa resplandecer.

Os animais da Arca representam assim os vários poderes do homem que são levados com ele vida após vida, na arca viva do próprio ser. A única janela na Arca representa o olho espiritual através do qual o homem superior contempla os corpos abaixo dele (um vislumbre do despertar da consciência).

Quando o mundo, ou seja, os corpos novamente entram no ser, a Arca vai repousar no topo do Monte Ararat. Isto é a cabeça do homem ou o lugar alto no corpo (Kether na Cabala). Lá, no seio frontal, o Ego se assenta e as forças dele, descendo outra vez, habitam o corpo.

Quando a pomba, o mensageiro (Malach), traz o ramo de acácia de volta para o homem superior, então ele sabe que os corpos inferiores retornariam à vida, e que será possível descer da Arca e com eles reiniciar o trabalho. Isso mostra que os altos ideais e as forças animais transmutadas podem novamente ir a todos os lugares da Terra e prosseguir com seu trabalho.

A primeira coisa que Noé fez quando saiu da Arca foi construir um altar para o Senhor e, sobre esse altar ele construiu uma fogueira, e sobre esse altar ele ofereceu sacrifícios a Deus. Cada um de nós que seguir seus passos terá de fazer o mesmo. O altar que ele construiu para Deus foi seu próprio corpo purificado (Mc. 14:58) e, diante Dele, ele e todos os seus filhos fizeram reverência. O fogo sobre o altar foi o fogo espiritual interno (fogo do Espírito Santo, Eráclito, etc.) aceso por Noé por meio de seus atos e pensamentos. O sacrifício (sacro-ofício) por ele feito sobre o altar foi o das paixões e emoções inferiores de sua vida.

Então, o arco-íris surgiu no céu e a aliança foi feita entre Deus e Noé que, por todo o tempo que o arco lá permanecesse, jamais haveria outra inundação. Essa é uma alegoria fantástica, especialmente quando nos lembramos que o arco-íris é formado pelas três cores primárias: o azul do espírito, o amarelo da mente e o vermelho do corpo. Estas são as cores da tríplice trindade do homem: o pai, o Filho e o Espírito Santo. Logo que estes três princípios estejam equilibrados no homem, formando em suas combinações todas as demais cores, nunca mais haverá outro Olvido. Enquanto o coração, a mente e o corpo estão unidos harmoniosamente, tudo vai bem. Mas, se apenas uma dessas cores desaparecer, a escuridão envolverá o Ego em cujo templo foi cometido o erro. O tríplice caminho que leva à Deus é apenas um. Se nós amamos com todo nosso ser (Mc. 12:30) e permitimos que a nossa mente e o nosso corpo sigam sem uso, estamos tirando o nosso arco-íris do céu, logo, sem as sete cores não existe o branco, e predomina as trevas. Se sabemos todas as coisas e não temos amor, nada conquistamos (I Cor. 13:2). Se temos conhecimento e amor, mas nos descuidamos das ações de nossas mãos no  trabalho diário, nada conquistamos.

Nesse arco-íris, vemos o tríplice cordão prateado que, quando se parte, o corpo está morto (Ec. 4:12). A morte é o resultado da cristalização, quando o corpo  torna-se por demais pesado para ser carregado pelo espírito. Então ele é descartado e um outro é adquirido. É o mesmo com os pensamentos e emoções. Eles podem ser elevados e etéreos, embora sempre práticos. Se eles não o são, o arco-íris se quebra e o olvido, provocado pela discórdia e as incertezas, envolve o Ego e torna o percurso da vida insustentável.

Para finalizar, a analogia é a chave mestra capaz de abrir infinitos segredos. Nos mundos  e nos indivíduos, a Natureza age da mesma maneira. Assim como é com os menores, assim é com os maiores conforme a Lei da Correspondência: “O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima.” Se desejamos ser aqueles que se elevam acima das inundações do olvido e flutuar sobre o caos na Arca de nossas próprias almas, será necessário, construirmos esta arca como a natureza constrói a grande Arca Cósmica, isto é, pelo despertar da consciência e o aperfeiçoamento dos sempre mais elevados veículos de expressão. Isto é realizado vivendo-se diariamente a vida de serviço às coisas do alto (Cl. 3:2), reflexão e amor, cada um destes na medida certa e, sempre, com o único propósito de manter aceso o fogo do altar do Criador.

sábado, 14 de abril de 2018

A DIMENSÃO INTERIOR COM A PRESENÇA DE HOCKMAH


Imagem relacionada
Por Kadu Santoro

A dimensão interior, também chamada de estado de Presença do grande Eu Sou, reflete como tudo no universo conspira a favor de um Eu e exibe uma dimensão de espontaneidade subjetiva. Do Big Bang às antigas nuvens galácticas e depois os planetas em seu estado de formação, cada um revelou uma capacidade de agir de forma singular e avançou rumo ao seu próprio destino. Sob este princípio, o universo consiste em um conjunto de sujeitos, não de objetos, pois sua experiência existencial é resultado de uma unicidade absoluta manifesta. Nada encontra-se inerte ou morto, tudo está em constante movimento. A sabedoria universal, cuja a Cabala é uma depositária te todo conhecimento, nos ajuda a aprender como e o que percebemos, sentimos, imaginamos e experimentamos. Em um nível espiritual mais profundo, essas vozes lidam com o conhecimento do nosso Eu. A partir daí, começamos a desenvolver um senso de profundidade ou interioridade ao reconhecermos que algo maior que nós próprios encontra-se se movendo com propósito através de nossas vidas, como disse Einstein: Deus não joga dados. Quando nos defrontamos com essa consciência que está dentro de nós a experimentar, entramos na presença de Hockmah, a Santa Sabedoria, o sopro de consciência vindo direto de Kether. Este “Eu Sou” tem dons para dar, inclusive a satisfação de necessidades que tentamos preencher olhando apenas para o exterior, essas que nos afastam cada vez mais do centro.

domingo, 1 de abril de 2018

A quem se destina o estudo da Cabala?

Por Kadu Santoro

Certa vez me perguntaram por que eu não desenvolvo um método de ensino da Cabala mais fácil, com a alegação de que existem muitas pessoas que não encontram-se preparadas para receber esses conhecimentos, e outros que querem apenas esses conhecimentos de forma prática para resolverem os seus problemas imediatos.

A minha resposta foi a seguinte: em primeiro lugar, do mesmo modo, e com a mesma certeza de que o sol nasce no leste e se põe no oeste, assim acontece com a Cabala. Ela consiste em um sistema de ensinamento único imutável, presente em todas as culturas dos quatro cantos do mundo e do universo, e além disso, esse conhecimento encontra-se programado no DNA espiritual de todos os seres humanos, de forma que qualquer um que venha a receber esses ensinamentos, será despertado automaticamente para essa realidade superior que permeia todo o universo, do macrocosmo ao microcosmo. Esse argumento de que existem pessoas que não estão prontas para receberem tais ensinamentos, me soa presunçoso e preponderante, como os argumentos da Igreja Medieval em relação ao povo, dizendo que eles não tinham capacidade de lerem a Bíblia e compreendê-la de forma correta, pois somente os sacerdotes podiam fazer tal coisa, e como os rabinos que descrevem no Talmude que só podem estudar Cabala aqueles com mais de quarenta anos, família formada, estabilizados, etc. Porém, eu vos digo, que ninguém pode falar por ninguém, apenas aquele que encontra-se diante desses ensinamentos é que pode dizer qualquer coisa a respeito, até porque, como já disse, esses ensinamentos encontram-se dentro de cada um, como o próprio Evangelho nos diz que o Reino de Deus está dentro de nós, e as chaves de compreensão desse Reino (Malchuth) são justamente os ensinamentos cabalísticos, logo, eles fazem parte do nosso processo existencial. O mais interessante, é que quando começo uma nova turma de Cabala, percebo já no primeiro dia de aula como os alunos sentem-se familiarizados e a vontade com os ensinamentos, a ponto de muitos dizerem ter a impressão de que já conheciam tudo isso de alguma época ou lugar, mas não sabem explicar de onde, pois na verdade tudo está dentro deles mesmos, apenas é acessado durante as aulas.

Existe uma máxima universal que diz que conhecimento é poder, e é por isso que aqueles que ocupam os altos escalões do staff global, não querem que a humanidade evolua em conhecimento, pois assim, todos continuam na ignorância em relação a tudo e todas as coisas, sendo mais fáceis de serem governados e manipulados através do medo e da culpa. Sempre foi assim em todas as culturas, principalmente no âmbito religioso, onde o que havia de melhor era reservado apenas a pequenos e seletos grupos, como aconteceu com o Cristianismo que tinha como melhor os gnósticos e esses foram sucumbidos, assim também aconteceu com os Sufis, que foram dizimados pelos Islâmicos e também com o Judaísmo rabínico que sufocou os cabalistas neoplatônicos, pois esses últimos tinham como propósito despertar a consciência do seu povo, a gnosis universal, ensinando sobre as relações de imanência e transcendência que produzem o verdadeiro encontro do Ser e seu propósito aqui e agora, livre das superstições e observâncias religiosas que sempre deram e continuam dando muito lucro aos sacerdotes mal intencionados.
A outra questão, falo a um grupo de pessoas imediatistas que não querem buscar o seu autoconhecimento e continuam na imaturidade, querem apenas o peixe, porém não querem aprender a pescar, por isso que não se interessam em aprofundar-se no estudo mais sublime da Cabala de forma disciplinada e refletida, que trata justamente da nossa natureza e nossas relações com o mundo que nos cerca. Como Freud dizia, que as pessoas que não querem amadurecer porque isso requer responsabilidade, ora, é mais fácil o indivíduo continuar culpando os outros e se queixando a Deus como vítima do que parar, refletir e perceber que tudo está dentro da lei de causa e efeito, ou seja, somos totalmente responsáveis por tudo que o que ocorre em nossas vidas, exceto quando é algo definido pela natureza superior ou pela lei do Carma, e mesmo assim, não é por acaso, nós e que nos equivocamos muitas vezes pensando que Deus se confundiu ou se esqueceu de nós. Aqueles que procuram a Cabala apenas para resolverem seus problemas, como uma receita de bolo, estão ocupando-se apenas com uma parte da realidade, e a única que é transitória e passageira, correspondente ao mundo do 1%, deixando de lado a outra parte que é eterna e perfeita que representa o mundo dos 99%. Tem um versículo Bíblico que diz: “Mas, buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Mateus 6:33. Cabalisticamente falando, se o Reino de Deus encontra-se dentro de nós, então devemos buscar em primeiro lugar nos conhecer, o autoconhecimento, a livre auto iniciação, como dizia o Oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo.” E a justiça (Gevurah), consiste na equidade baseada nas leis divinas conforme a máxima: “Não julgueis para que não sejais julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida que usardes par medir a outros, igualmente medirão a vós...” Mateus 7:1,2.

A Cabala encontra-se aberta para todos aqueles que querem adentrar pela porta estreita e percorrer o apertado caminho, pois esses sabem para onde querem ir, ao contrário daqueles que buscam a porta larga e o caminho espaçoso e querem viver apenas de ilusões efêmeras e passageiras, escravizados pela roda de samsara (roda das encarnações) em pleno estado de sono, sem despertar para a realidade maior que habita dentro de cada um. Não existe outro pré-requisito para estudar Cabala que não seja um coração humilde e sincero, pois o resto é apenas comentário.

Para finalizar, deixo aqui um pensamento totalmente relacionado com tudo o que falamos acima, do grande mestre oriental Lao Tsé:

"Aquele que conhece os outros é sábio.
Aquele que conhece a si mesmo é iluminado.

Aquele que vence os outros é forte.
Aquele que vence a si mesmo é poderoso.

Aquele que conhece a alegria é rico.
Aquele que conserva o seu caminho tem vontade.

Seja humilde, e permanecerás íntegro.
Curva-te, e permanecerás ereto.

Esvazia-te, e permanecerás repleto.
Gasta-te, e permanecerás novo."

O sábio não se exibe, e por isso brilha.
O sábio não se faz notar, e por isso é notado.

O sábio não se elogia, e por isso tem mérito.
E, porque não está competindo,
ninguém no mundo pode competir com ele."





sexta-feira, 30 de março de 2018

A Essência da Páscoa



Por Kadu Santoro

Quando se fala em semana santa, a maioria das pessoas ocupam-se com o planejamento de viagens no feriado, almoço em família e com a tradicional troca de chocolates, em especial os ovos de páscoa, que parecem mais ovos de ouro devido aos altos preços. Aqueles mais religiosos ocupam-se com os rituais, as liturgias, as procissões e principalmente com as observâncias da abstinência da carne e das discussões. Tudo isso nada tem haver com a essência da mensagem da páscoa também chamada Pessach em hebraico, que tem como símbolo principal, o despertar da consciência, descrito alegoricamente no antigo testamento como a saída da escravidão do Egito e no novo testamento com o episódio da ressurreição, ou seja, em ambos os casos remete à liberdade, a liberdade do Ser, o despertar do homem integral, livre dos condicionamentos do ego que o escraviza com todos os seus desejos e caprichos ardentes.

O símbolo da Páscoa nos remete à saída do estado de sono (Egito) em que nos encontramos, vivendo uma vida ordinária de forma mecânica e rotineira, longe do estado de Presença, da lembrança de Si mesmo, apegados às tradições daqueles que também viveram nesse estado de sono sucessivamente de geração em geração, promovendo uma verdadeira continuidade letárgica por mais de 2.000 anos. O simbolismo da ressureição vem nos mostrar o despertamento para a nossa realidade imortal, eterna, essa que é pautada nas virtudes intangíveis, fé, esperança e caridade, também, chamada de virtudes teologais, indo além, tomando consciência da nossa condição miserável e limitada nesse mundo sensível e denso, fazendo com que lembremo-nos da nossa verdadeira origem, que é divina, espiritual, como disse Pierre Teilhard de Chardin: “Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana.”

É lamentável como a grande maioria das pessoas continua totalmente imersa no sono (Egito), no estado de ignorância sobre Si mesmo, e com isso afastam-se cada vez mais uns dos outros, guiados apenas pelos seus desejos e vontades, gerando cada vez mais disputas pautadas em ciúmes, raiva, traição, egoísmo e ganância, longe de desconfiar o quanto vivem afastados da verdadeira essência, que é a comunhão, a partilha e a harmonia entre todos. De nada adianta cumprir os mandamentos da Quaresma e da Semana Santa como uma formalidade religiosa, é preciso viver a essência dessa mensagem durante os 365 dias do ano, com consciência plena da nossa responsabilidade sustentável com todos, vivendo em função do Ser e não do Ter, lembrando que estamos aqui de passagem, e logo seguiremos para uma nova jornada de acordo com a lei de causa e efeito em processo contínuo até nos refinarmos o suficiente para evoluirmos para níveis mais sutis no universo.

O simbolismo da Páscoa nos convida à ressureição da nossa Essência, o despertamento do Cristo Interior, isso acontece de forma cíclica ao longo de nossa vida, morremos e ressuscitamos cotidianamente, assim como o equinócio da primavera em todos os anos, é um tempo de novos começos, reconhecido em todas as religiões como um arquétipo. O dia 25 de março, dia da Anunciação, é equivalente a uma festa especial nos ensinamentos do antigo Egito, quando ocorre uma conjunção entre o Sol e a Lua. Essa época também é reconhecida entre os astecas, babilônios e romanos. Um período, com jejuns e pequenos sacrifícios voluntários.

A alegoria do sacrifício de Cristo, sua via crucis até o gólgota, representa a mortificação do ego, abrindo espaço para o preenchimento da gnosis, o verdadeiro conhecimento capaz de libertar o homem das ilusões (Maya), isso corresponde a uma verdadeira iniciação, a caminhada pela senda do autoconhecimento, onde cada um de nós, vai percorrendo seu labirinto interior, lutando contra suas más inclinações e desejos perniciosos, e isso gera muita dor e agonia, mas sem sacrifícios não há evolução do Ser, como dizia os antigos Cátaros que é preciso sairmos da condição de larva, passando pela crisálida até nos tornarmos borboleta (metamorfose). A coroa de espinhos simboliza o sacrifício da mudança de pensamentos (metanóia), por isso está na cabeça, pois é preciso “perder a cabeça” como acontecera metaforicamente com João Batista e Paulo de Tarso, e deixar surgir através da gnosis a nova mente, a mente do ressuscitado, do Eu Superior, voltada às coisas do alto. A crucificação é o clímax da iniciação, naquele momento céu e terra se encontram, já não há mais separação entre o Ser e sua Essência, Ele e o Pai São Um, a vitória sobre a condição dual do homem materialista foi estabelecida, as portas da Jerusalém celestial foram abertas e eis que o Novo Homem toma posse do paraíso (Éden) dentro de Si. Essa é a nossa jornada que todos somos convidados a fazer nessa Semana Santa, ressuscitar, lembrar de Si e assim vivermos segundo a vontade do Criador e em harmonia com o universo.