sexta-feira, 7 de julho de 2017

Da’at e a Tradição Primordial

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Por Kadu Santoro

Por trás de todas as tradições de sabedoria espalhadas pelos quatro cantos do mundo, há uma Tradição Primordial arquetípica donde todas elas derivam. Cabalisticamente, podemos comparar essa Tradição Primordial com uma transmissão de luz, onde a meia sephira Da’at seria como um prisma sagrado pelo qual a luz primordial passa, convertendo-se em raios das diferentes transmissões dessa mesma luz formando as tradições de sabedoria, como descrito no Evangelho dos Doze Santos: “Vede este cristal: assim como uma só luz se revela por doze faces, sim, em quatro vezes doze, e cada face, por sua vez, reflete um raio da luz, uns percebem uma face, outros vêem outra, porém o cristal é um só e também uma só a luz que ele irradia em todas.” Todas são expressões da mesma luz, mas cada uma consiste em uma manifestação distinta e única da luz.

Da’at é a Gnose da Tradição Primordial e ela encontra-se presente em todas as tradições de sabedoria do mundo. Quando falamos da Torá como o sistema básico de toda a criação, estamos na verdade nos referindo a Tradição Primordial presente dentro e por trás das Escrituras, que também encontra-se dentro e por trás de outras tradições de sabedoria.

A realização espiritual de um adepto que alcança o nível de Da’at é o conhecimento de que as coisas se manifestam como ele espera que o façam e também o conhecimento de as coisas aparecem de acordo com a nossa perspectiva, logo o adepto reconhece espiritualmente a ilusão-poder cósmico ou princípio da relatividade. Desse modo, Da’at se revelará de acordo com o caminho ou a tradição do aspirante.

Para um Cristão Gnóstico, essa forma de Gnose ou conhecimento (Da’at) encontra-se implícito na Torá, nos Evangelhos e na sabedoria oculta da Cabala contida nessas escrituras. Já dentro de outras tradições, Da’at adotará a forma das suas próprias escrituras e do conhecimento esotérico que contém. Logo, é a mesma verdade e luz, mas nesse nível a manifestação é relativa para o observador. Uma tradição consiste em um veículo de desenvolvimento através de uma linguagem espiritual por meio da qual se comunica a conquista ou a meta a ser alcançada, ou seja o que se alcança e comunica transcende uma única tradição que sempre esteve presente no mundo.

A essência mais hermética das Escrituras é a Tradição Primordial da qual são uma expressão externa a Torá e o Evangelho – que os grandes mestres se referem quando dizem que “a Torá é a base da criação, e o Evangelho é o cumprimento da criação.”

Há um segredo no versículo do Salmo 110 no versículo 4 que diz: “O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a Ordem de Melquisedeque.”Nas Escrituras de nossa tradição ocidental, a Ordem de Melquisedeque consiste em um código para a Tradição Primordial, que é justamente a fonte de todas as tradições de sabedoria. Não é atoa que tanto os sacerdotes cristãos católicos e os maçons utilizam em suas iniciações a invocação e a inserção do aspirante segundo essa ordem, logo, tanto para um quanto para o outro grupo, uma vez iniciado, iniciado para sempre segundo a Ordem de Melquisedeque, que também é chamado em outros povos de o Rei do Mundo como diz René Guenón em seu livro com o mesmo nome – O Rei do Mundo, e também na literatura de Jean Tourniac – Melquisedeque ou a Tradição Primordial, publicado pela Editora Madras.

Um sacerdote-rei santo da Ordem de Melquisedeque, é um adepto que realiza a Tradição Primordial dentro e por trás da sua própria tradição e, portanto se converte em um iniciado da Tradição Primordial, que é transmitida para pouquíssimos que encontram-se verdadeiramente preparados.

Dentro dessa Ordem, o primeiro grau de neófito corresponde à conquista espiritual de Binah (compreensão), que também é chamada hermeticamente pelos rosacruzes de Magister Templi, e como já falamos, é um contato direto com a luz primordial emanada de Kheter (Coroa Suprema).

No gnosticismo cristão, o nível mais profundo de iniciação é conhecido como os ensinamentos de Melquisedeque. Segundo esses ensinamentos, a Alma do Messias entrou em vinte e seis mundos antes da encarnação no planeta Terra e, assim, a transmissão de luz passou por muitos mundos antes de entrar nesse nosso mundo. O último pelo qual passou antes de encarnar no nosso, foi aquele que gira em torno da estrela Sírio. Por isso, Sírio é um dos atributos celestiais de Da’at, a sephira oculta. Como a transmissão  de luz passou por outros mundos e, portanto, por outras raças, também se pode dizer que Da’at é o ponto de contato com os iniciados – da Ordem de Melquisedeque ou também chamados de mestres ascensionados.

Por mais fantásticas que sejam essas concepções, entendidas de forma literal ou metafórica, elas na verdade expressam a realidade e a experiência dos adeptos que entram em contato com Da’at a sephira do Conhecimento.

Fontes:
MALACHI, Tau : Cristo Cósmico – A Cabala do Cristianismo Gnóstico, Ed. Pensamento.
GUENON, René : O Rei do Mundo, Edições 70 – Conexão Esfinge – Portugal.

TOURNIAC, Jean : Melquisedeque ou a Tradição Primordial, Ed. Madras.