quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Meu Reino não é deste mundo


82 – Quem está perto de mim está perto da chama; quem está longe de mim está longe do Reino. (Evangelho de Tomé)

Repetidas vezes comparam os livros sacros Deus e Cristo com o fogo. O Cristo veio para lançar fogo à terra e anseia por que arda. O homem crístico é mergulhado no fogo do espírito santo. Deus é um fogo devorador.

Paralelamente à alegoria do fogo corre a da luz. Deus é luz. O Cristo é a luz do mundo. O homem é luz.
Não há nada tão mortífero como o fogo – e não há nada tão vivificante como a luz.
Se Deus ou o Cristo são fogo, eles são destruidores; se eles são luz, são construtores.
E de fato assim é.

Deus é um fogo devorador para o ego ilusório do homem; Deus é uma luz vitalizante para o Eu real do homem. Ninguém pode ver a Deus e continuar a viver no seu ego como antes.

Quando alguém tem a consciência da presença do Cristo, sente-se incendiado pelo fogo e iluminado pela luz. O Cristo o incendeia – o Cristo o lucifica. O homem cristificado é inevitavelmente um homem dinâmico. Nada quer para si – tudo quer para Deus e os homens.

Quem proclamou em si o Reino de Deus anseia por ampliá-lo pelo mundo inteiro. O fogo destrói toda a ilusão – a luz constrói toda a verdade.

O Cristo Místico
Muitas pessoas têm duvidas da existência histórica de Cristo. 
Deixemo-las em suas divagações, pois não temos tempo 
a tratar de demonstrar a existência do Sol.


A narrativa da descida do Verbo ao seio da matéria é tão perfeita, tão verdadeira quanto a descida do Eu Sou ao Meu Corpo.

Jesus identificou-se com o Cristo, “O Verbo por quem todas as coisas foram feitas”. Para as igrejas, esse fato divino tornou-se em data histórica de quem consideram a divindade encarnada (o Cristo Místico). Assim como o Cristo dos Mistérios, O Logos, a Segunda Pessoas da Trindade, é o Macrocosmos, assim também o Microcosmos encerra e representa o segundo aspecto do Espírito Divino, chamado, por isso, Cristo.

O segundo aspecto do Cristo dos Mistérios é, portanto, a vida do Iniciado, a vida do Segundo Nascimento no Reino Interno. Durante esta Iniciação Interna, o Cristo nasce no homem e, mais tarde, exalta-se, para tornar mais intelectual ao Iniciado a natureza do Espírito nele.

Somente por meio do Amor pode o homem aspirar à Iniciação. Pelo amor verdadeiro o homem pode tornar-se “puro, santo, sem mancha e viver sem transgressão”, chegando assim a ser Iniciado, a SER Cristo CONSCIENTEMENTE. Esse é o caminho das provas que levam à “Porta Estreita”, ao “Caminho da Santidade” e, pois, ao”Gólgota com a Cruz às Costas”.

O Cristo-Sol no homem é o Fogo Divino da Alma, que se deve “converter em Luz”; “O nosso Deus é Fogo”, disse Moisés. É o Menino que nasce como o homem no presépio, na casa de carne (Belém), o corpo físico.

O candidato deve desenvolver estas qualidades de maneira perfeita, antes que o Cristo possa nascer nele. Deve preparar a morada para esse Menino Divino que vai crescer dentro dele. Os preceitos necessários para desenvolver essas qualidades estão perfeitamente traçados no Sermão da Montanha, e nada mais temos a dizer sobre esse particular.

O maior Mistério do Cristianismo está encerrado nos 14 versículos do primeiro capítulo do Evangelho de São João:

1. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2. Ele estava no princípio com Deus.
3. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez.
4. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;
5. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
6. Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.
7. Este veio para testemunho para que testificasse da luz; para que todos cressem por ele.
8. Não era a luz; mas para que testificasse da luz,
9. Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo.
10 . Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O conheceu.
11. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12. Mas, a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos Filhos de Deus; aos que crêem no seu nome;
13. Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.
14. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.

Todas as religiões, antigas e modernas, colocaram e colocam sobre altares a imagem de um homem ou de uma mulher para simbolizar o poder Divino e o Adorá-lo. A Arca de Noé, a Terra Prometida, o Presépio de Belém, o Santo Sepulcro, o Tabernáculo, Jerusalém, o Templo de Salomão etc. não são mais do que o mesmíssimo corpo humano onde arde o Fogo Crístico.

O homem é um sistema universal composto de astros, planetas, sóis, luas, cometas, vias-lácteas e constelações. Deve seguir as mesmas LEIS DO SISTEMA MAIOR. Quanto mais perfeito é o homem, tanto maior cumprimento dá a essas leis, como o fez Jesus Cristo. Nós também “devemos chegar, algum dia, à estatura do Cristo”.

Há uma só religião com muitas instituições religiosas, assim como há uma única humanidade com muitas raças e costumes. O Grande Arcano das religiões, como o temos visto, está no poder do Fogo Crístico e da Luz Inefável. O Sol, sempre o Sol, era adorado como o Grande Fogo que ardia no meio do Universo, ao passo que o Fogo Divino está mais além do Sol físico. Por esse Fogo Divino Interno, que foi adorado no princípio, o homem nos deixou um símbolo no archote, na espada flamígera e na coroa de ouro cujas pontas se assemelhavam aos raios solares.

Todos os Homens Deuses tinham nomes que significavam Fogo-Luz: Júpiter, Apolo, Hermes, Mitra, Baco, Odin, Buda, Krishna, Zoroastro, Fo-Hi, Agni, Hiram Abiff, Sansão, Josué, Vulcano, Alá, Bel, Baal, Serápis, Salomão, Jeshua (Jesus) e muitas outras divindades cujos nomes significam manifestações de Luz.

A fábula de Prometeu é um véu da Verdade: a alma humana, ao possuir o fogo divino da humanidade, empregou-o para a destruição. Foi encadeada à rocha (o corpo) e devorada pelo abutre (dos desejos) até que um homem conseguisse dominar o fogo e se tornasse perfeito. Essa profecia foi cumprida por Hércules (o Cristo), que (nascendo como Luz no mesmo fogo da alma) libertou a que, havia tantos anos, estava submetida ao tormento (nascendo no seu coração pelo segundo nascimento ou Iniciação).

A luz que brilha no sistema nervoso é o mediador entre o Deus Íntimo e o homem externo. É a ponte que une o Espírito à Matéria. Por causa dessa Luz o Filho do Homem é chamado Filho de Deus. Os filhos da Luz conseguiram ver o Sol Interno Invisível. As antigas religiões buscavam a maneira de captar o fogo cósmico que circulava no éter; por isso, valiam-se os sacerdotes de plantas, de animais e de metais com propriedades absorventes dessa Luz Invisível.

O cristianismo emprega o fogo em seus ritos com o incenso para simbolizar que, assim como o fogo queima o incenso e este se converte em fumo perfumador, assim também o Fogo Divino, no homem, consome tudo quanto há de grosseiro da alma, para convertê-la em fragrante perfume. Os campanários, as torres, os obeliscos e as pirâmides são símbolos nativos do Fogo.

O ouro dos templos tem a cor da luz solar. Os círios acesos nos altares representam o Fogo Divino. A pequena lâmpada vermelha alimentada com azeite, que ilumina o altar, é o mais importante; é o símbolo de IEVE, Adão-Eva, O Senhor Construtor das Formas.

O azeite é o símbolo do sangue: este mantém a chama sagrada do homem, assim como o outro sustenta as chamas físicas.

O sangue é o veículo da chispa divina. Esta chispa move-se com a corrente sanguínea e não se encontra em qualquer ponto particular do organismo. A vibração desta chispa pode ser dirigida e localizada em qualquer parte do corpo, por meio da vontade concentrada. O sangue incendeia-se nas veias e manifesta o Fogo Divino Interno.

O Iniciado participa do Divino Poder Solar. Transfigura-se. Esse poder manifesta-se em forma de auréola de luz ao redor de sua cabeça, porque o Fogo do Espírito Santo no Sacro se converte em luz no cérebro, e o Iiniciado se converte em Onisciente sem necessidade do intelecto. Essa auréola de luz, com o tempo, converte-se em diadema para o rei, mitra para o bispo, disco de luz para a cabeça dos santos.

O Fogo Criador, ao subir pela espinha dorsal e, finalmente, chegar ao terceiro ventrículo do cérebro, toma uma formosíssima cor dourada, irradia-a em todas as direções, formando uma coroa sobre o osso occipital, em forma de leque. Essa luz significa a regeneração do homem que alcançou a “estatura de Cristo”. Ela muda de cor conforme o pensamento: a pureza converte-se em branca; a espiritualidade, em azul; o saber, em amarelo; o amor, em cor-de-rosa etc. Temos hoje muitos meios de demonstrar esses fenômenos e muitos homens de ciência estão ocupados no estudo da aura humana.

Temos já dito que o homem deve ter dois nascimentos: um físico e um espiritual. Tem de ser homem e Cristo ao mesmo tempo. Vamos agora tratar de decifrar o Mistério do Cristo no homem físico assim como deciframos o significado do Cristo Solar.

O grânulo de vida está depositado no útero materno, porta da vida, durante nove meses; após esse tempo, nasce, e a Alma Cristo permanece no casebre do coração, no corpo (casa de carne). O Menino-Cristo no homem está rodeado de animais: a ignorância do burro, a debilidade do cordeiro e a brutalidade do touro. O rei das trevas, no corpo, com a ambição e o orgulho, quer matar o novo Rei nascente, para livrar-se do remorso e ter ampla liberdade de seguir os desejos da carne.

O neófito é atacado pelo fantasma do umbral no segundo nascimento e é perseguido por todas as hostes do inferno (mundo inferior). Foge, então, para o Egito, isto é, refugia-se no mundo interno, abandonando as tentações do corpo e suas paixões, a fim de crescer espiritualmente e voltar, depois, ao cumprimento de sua missão na vida. Assim como o Sol percorre aparentemente os 12 signos zodiacais, também o Espírito Crístico tem de percorrer todas as dependências do seu sistema no corpo, que é a miniatura do Universo.
A cabeça é o Oriente do homem, de onde sai o Sol-Cristo. O Iniciado deve dirigir sempre os seus pensamentos e suas práticas para o cérebro, onde tem a raiz de sua trindade. A porta para o Oriente é o coração, por onde deve entrar o neófito.

Por essta porta o neófito ou recém-nascido é conduzido para as piras do batismo (que se acham no fígado, órgão que forma, por suas emoções e desejos, o corpo astral ou de desejo); ali ele é batizado e submetido à Prova da Água, que significa o domínio do desejo. O recém-nascido jura ante o altar no coração, onde brilham um Sol e seis luminares. (O Sol foi depois representado pela custódia, símbolo do Sol resplandecente, ou símbolo do Fogo Divino; os seus centros magnéticos ou planetas são simbolizados pelos seis círios.)

O Cresthos (em grego significa “Bom”) é uma qualidade que deve ser adquirida antes de poder se tornar um Cristo, um Ungido. Após haver chegado a viver uma vida virtuosamente exotérica, poder-se-á começar a viagem ou o caminho para a Iniciação, a Senda da Provação – a senda que conduz à porta estreita – o caminho da Santidade, o caminho da Cruz. O aspirante deve adquirir as sete virtudes para sentir o ardor pela felicidade de ver Deus e de unir-se a Ele (Mateus 5: 8: Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus).

O Espírito que mora no corpo é um fragmento invisível de Deus. É trino, por ser Deus. É Poder, Amor e Saber. O Pai é o Poder; o Filho é o Amor e o Espírito Santo é o Saber. A Iniciação consiste em dar completa liberdade ao Íntimo para que obre por meio dos seus três atributos. O Cristo Místico, pois, é o Ser Interno do homem e, por conseguinte, é Duplo.

É o Logos, Verbo ou Segunda Pessoa da Trindade, que desce à Matéria. Em seguida, o Amor, segundo aspecto do Espírito Divino, faz evoluir o homem. Um representa os processos cósmicos no Mito Solar, o outro representa o processo que se passa no indivíduo. Ambas as fases, a Solar e a Individual, encontram-se na narrativa dos Evangelhos; sua união nos apresenta uma imagem do Cristo Místico. O Cristo Cósmico, a divindade que se envolve com a Matéria, é a encarnação do Logos ou Deus feito carne. Esta Matéria-Mãe recebe da Terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo, a vida que a anima e lhe permite tomar forma.

A Matéria condensada é modelada em seguida pelo Filho, o Segundo Logos, que se sacrifica encerrando-se ou crucificando-se, a fim de tornar ao “Homem Celeste”.

Do seu corpo fazem parte todas as formas. Tal é o processo cósmico dramaticamente representado nos Mistérios.

“O Espírito de Deus pairava sobre as Águas. E as trevas estavam sobre a fece do Abismo”, disse o Gênese. Logo, lhe foi dada a Forma pelo Logos: “Todas as coisas foram feitas por Ele e nada foi feito sem Ele”, disse São João no seu Evangelho.

Uma vez terminado o trabalho do Espírito, o Cristo Cósmico e Místico pode revestir-se de Matéria, entrando no seio da Virgem Matéria. Esta Matéria foi vivificada pelo Espírito Santo a fim de receber o Segundo Logos e, assim, o Cristo se encarna e se faz carne; a vida e a matéria O envolvem com uma vestimenta dupla.

É a descida do Logos na Matéria, descrita com o nascimento do Cristo por uma Virgem. Isso se torna Mito Solar, esse é o nascimento de Deus-Sol no momento em que o signo de Virgo ou Virgem se levanta no horizonte. Começam aqui os símbolos e as lendas. O Menino nascido está sujeito a todas as debilidades infantis. Ele, então, representa “a alma frágil que nasce para a Evolução”. A Matéria O aprisiona para matá-lo. Ele, porém, lentamente triunfa e modela o corpo para um destino sublime.

Consegue a maturação do corpo e se crucifica nessa matéria com a finalidade de derramar da cruz todas as energias de sua vida, sacrificada em benefício do progresso da criação.

Padece, depois morre para os sentidos e é sepultado; mas levanta-se com o corpo astral radiante que torna veículo ou vestimenta (da alma) e vive através das idades. A crucificação de Cristo é uma parte do grande sacrifício cósmico. Todas essas alegorias da crucificação nos mistérios se materializavam até o ponto de tornar-se morte verdadeira de uma pessoa, sofrida na Cruz e num crucifixo levado por um ser humano que expira.

Toda esta história é hoje a história de um homem; foi aplicada ao Instrutor Divino, Jesus, e transformou-se na história de sua morte física, assim como o seu nascimento de uma Virgem e a infância rodeada de perigos. Sua Ressurreição e Ascensão chegaram a ser assim como incidentes de sua vida. Os Mistérios desaparecem, mas as lendas chegam a ser a vestimenta do Instrutor da Judéia.

O Cristo Cósmico desaparece no Cristo Histórico. “Para os Iniciados, porém, o Cristo era, é e será sempre o dos Mistérios, que está intimamente ligado ao coração humano – o Cristo do Espírito Humano – o Cristo que vive em cada um de nós, que aí vive, é crucificado, ressuscita dentre os mortos e sobe ao céus, em meio dos sofrimentos e dos triunfos de todo “Filho do Homem. A vida de todo Iniciado nos Mistérios celestes está traçada em grandes linhas na biografia dos Evangelhos. Por isso São Paulo fala do nascimento, da Evolução e da maturação completa de Cristo no discípulo.

Todo homem é potencialmente um Cristo e segue de um modo geral a narrativa dos Evangelhos nos incidentes principais. Mas, como já dissemos, esses têm um caráter Universal e não Partcular.

Cinco grandes Iniciações esperam o aspirante a Cristo. A primeira É O SEGUNDO NASCIMENTO DO CRISTO NO CORAÇÃO, POIS O DISCÍPULO NASCE NO REINO DE DEUS INTERNO, COMO UM MENINO. “SE NÃO VOS TORNARDES COMO MENINOS, NÃO ENTRAREIS NO REINO DOS CÉUS” DISSE JESUS. Jesus nasceu na caverna. (É a gruta da Iniciação conhecida pelos antigos como a “Caverna da Iniciação”.) Em cima da gruta brilha a ESTRELA DA INICIAÇÃO, cuja luz resplandece pelo nascimento da LUZ INEFÁVEL.

Sua vida está em perigo por causa das tenebrosas potências do mal. Apesar de todo o perigo, alcança o estado viril, porque, uma vez nascido, não pode o Cristo morrer, tem de terminar sua evolução no homem. Sua vida se expande em beleza e força, crescendo em sabedoria e espiritualidade até alcançar a Segunda Iniciação.

A Segunda Iniciação é o batismo da água ou o domínio de todos os desejos, o qual lhe confere os poderes necessários a um Instrutor. Então, descendo o Espírito Divino sobre Ele com a glória do Pai Invisível, ilumina-o e assim chega a ser “O FILHO BEM-AMADO”, A ELE SE DEVE ESCUTAR.

Logo Ele é levado ao deserto da Matéria para ser tentado. O inimigo secreto, que reside no baixo-ventre ou no inferno (parte inferior do corpo), esforça-se por lhe mostrar a dificuldade de seguir a senda, e convida-o a servi-lo, para a sua própria tranqüilidade e proveito pessoal. Ele, porém, vence o Tentador e a Tentação e volta aos homens, a fim de alimentá-los com o pão da vida e curá-los das doenças.

Depois de tantos serviços impessoais e sofrimentos internos, galga a montanha sagrada da Terceira Iniciação, onde se transfigura, tornando-se tão radioso quanto o Sol.

Estará, então, preparado para o BATISMO DE FOGO ou o BATISMO DO ESPÍRITO SANTO e a entrada na última etapa do caminho da Cruz. É, então, perseguido e vituperado; contudo, não deixa de crescer a vida do amor. Bebe o cálice amargo da traição, do abandono, e é negado por todos os seus. Anda desapreciado pelos homens, carregando a cruz na qual deve morrer, renunciando à vida do mundo inferior.

Cercado de inimigos triunfantes, o seu heróico coração lança um grito ao Pai que parece tê-lo abandonado, e então abandona o corpo de desejos. Ele, o iniciado, desce aos infernos para poder salvar os que pedem auxílio e os átomos que desejam trabalhar sob o estandarte do Ser Interno. Volta depois à luz, abandonando as trevas inferiores, com o sentimento de que é o Filho Inseparável do Pai.

Uma vez terminados os seus deveres na vida terrestre, Ele sobe ao Pai por meio da Quinta Iniciação, porque já está unido ao Deus Íntimo.

É esta a história dos Cristos e dos mistérios, ou do Cristo dos Mistérios, sob o duplo aspecto – Logos e homem –, cósmico e individual.

Jesus é considerado como o Cristo Místico e Humano, que luta, sofre e, finalmente, triunfa: é o homem em quem a humanidade se vê crucificada e ressuscitada, cuja história promete uma vitória a todos os que, como Ele, forem fiéis até a morte, e até mais além da morte.

Jorge Adoum


Extraído do link: http://nemdeusesnemastronautas.blogspot.com.br/2013/03/meu-reino-nao-e-deste-mundo.html

Andando sobre as águas


Quando escritos sagrados são lidos, todo detalhe é de grande importância, é nas pequenas coisas ditas que as grandes revelações acontecem. No Novo Testamento cristão se descreve a passagem quando o Cristo andou sobre as águas. Não é dito que ele pairou sobre as águas, mas que andou sobre elas. Se Cristo andou sobre as águas nós humanos também podemos fazer o mesmo, mas temos de andar e não ficar parados. Na prática este ensinamento simbólico significa que se ficarmos quietos esperando por um milagre acabaremos afundando nos problemas que tentamos superar. Porém, se aplicarmos dinamismo a nossas vidas e nos envolvermos continuamente em nossas tarefas e nos esforçarmos para fazer algo novo acontecer, então o milagre de andar sobre as águas será revelado através de nossas presenças também.

O. Q. - 08/04/11

ÁGUA - CORPO EMOCIONAL

Aprendi com o pensamento nativo que assim como não devemos bloquear as águas de um rio, não devemos bloquear nossas emoções, mas sim fazer com que elas fluam harmoniosamente como às margens de um rio. Pensando nisso, o que acontece, com águas paradas? O que acontece quando bloqueamos nossas emoções? O Elemento água está diretamente ligado às emoções, assim como a Lua.
Como aprendemos a lidar com as emoções no Xamanismo?
Quando não estamos bem, por qualquer motivo, sentimos uma sombra escura, e somos arrastados à medos, depressões, desesperanças. Busca-se a felicidade, mas, para alguns, ela é sempre temporária, não dura.


As crises pessoais ocorrem quando percebemos a inutilidade de um velho padrão, mas continuamos insistentemente apegados a ele, porque nos é mais seguro e familiar.

Para isso precisamos de algo verdadeiro, simples e eficiente, para poder atravessar as águas das emoções que acompanham as transformações, e o crescimento que advém das crises pessoais.

Precisamos estar conscientes que na medida da expansão da consciência, velhas estruturas tendem a cair. O modo antigo vai se disolvendo, tomamos medidas para entorpecer nosso sofrimento, criamos ilusões.

A raiva é a lembranças da dor passada e revisitada. A irritação produz uma substância que se espalha vagarosamente pelo nosso sistema nervoso, interrompe canais elétricos, contamina a aura.

O medo é a dor da lembranças projetada no futuro. Vivemos num mundo com um fluxo invisível de águas de sentimentos. E, as vezes somos inundados pelas ondas das experiências vividas no passado, e quem sabe em outras vidas.

Não há como evitar os sentimentos, somos seres humanos. Há como passar por eles e aprender com suas lições. Negar ou evitar os sentimentos, os intensificam, eles crescem e se tornam maiores na nossa vivência. Aceitar, é reafirmar que estamos prontos para acompanhar e transpor o sentimento de imediato, de maneira que podemos aprender, e crescer na jornada.

Nos povos primitivos e nas sociedades contemporâneas, o medo, embora negado, sempre esteve presente na alma humana.

O medo afeta principalmente a áreas: 

Nuca – neutralizando emoções e impedindo que as informações cheguem com clareza ao cérebro, processador das mensagens consccientes e aquivo do inconsciente. Ficam retidos no pescoço e nos ombros.


Plexo Solar – se a natureza emocional está em níveis baixos, uma energia se acumula no plexo solar diminuindo a vitalidade e a imunidade do corpo.

O medo é um sentimento que exerce grande controle e limita nossa atitude, nossa criatividade. Através de um chamado interior ele vive um confronto existencial que o força a sair de uma zona de conforto, do falso brilho, da alienação. Reforçando a coragem e a determinação, o praticante de xamanismo, mobilizado por visões, introvisões e vivências, expande a sua consciência, podendo processar transformações de profundas proporções na sua vida.

Praticar xamanismo é ir em busca da excelência espiritual, é enxergar a realidade existente por trás dos conceitos, é se harmonizar com as marés naturais da vida. É trilhar o Caminho Sagrado, atravessando os portais da mente, das emoções, do corpo e do espírito.

Só você pode transformar a sua vida. O poder de decisão é o poder pessoal que poderá fazer isto. O xamanismo pode mostrar como abrir canais para que você descubra quais são as transformações necessárias ao Seu Ser, para caminhar na beleza e amor na Roda da Vida, para você seguir o caminho do seu coração e tocar em sua própria verdade conscientemente.

Kenneth Meadows, em Medicine Way, descreve o Corpo Emocional como um veículo que nos habilita para experimentar emoções e desejos, amor, prazer e sentimentos de elevação, assim como as sensações de desconforto e culpa.

O corpo emocional é um veículo mais móvel do que o físico ou energias corporais, e é também capaz de sentir vibrações que o físico ou energia corporal é inábil para perceber. O corpo emocional é capaz de converter pensamentos em sentimentos e vice-e-versa. Ele trabalha com glândulas e sistema nervoso, através da química e o funcionamento elétrico.

Devido à sua fluidez, as emoções humanas estão relacionadas com a água. Definindo as emoções como movimento da mente, a energia da mente pega ou dá impressões através de sentimentos, ou melhor a emoção é uma energia da mente que pode ser sentida. E é essa energia mental que toca o Espírito – o coração – e nós somos conscientemente despertos através dos sentimentos.

A emoção é portanto um poderoso veículo de força e poder, e é também uma ânsia por expressão. Como a água, ela pode ser agitada e tornar-se sombria e fora de controle. Nessa condição ela pode debilitar, ser destrutiva e confusa. Como a água, ela pode estourar na tempestade, afetando tudo no seu caminho, sem que possa ser controlada. Ou nós controlamos nossas emoções e as dirigimos, ou ela nos controla.

Emoções estão relacionadas ao passado – que é outro componente da Direção Norte (Sul no Hem. Norte) da Roda Medicinal – e nos fixa com o pessoal, objetos ou situações. Emoções têm afinidade com a cor vermelha – a cor da energia da força expressa no plano físico. Para prevenir-nos de sermos arremessados pelo oceano das emoções, precisamos nos libertar das fixaçõpes do passado que nos limita e inibe, que causa dor emocional no presente e que rouba nossos sonhos de futuro.

Cada degrau de apredizado é uma jornada até territórios desconhecidos e algumas vêzes o medo do desconhecido simplesmente é a causa do desconhecimento. O medo é o inimigo da Direção Norte (Sul no Hem. Norte).

Existem dois tipos de medo, o medo real e o medo ilusório. O medo real é devido a pessoa perceber que alguma coisa é possível de acontecer, com base na sua realidade, em fatos reais. Ao atravessar a rua, você olha para os lados. Não fica em locais sinistros e conhecidos como perigosos, etc. Esse medo nos preserva.

O medo ilusório é o medo de algo que possa vir a acontecer no futuro. por exemplo medo do dinheiro acabar e no presente está bem financeiramente, de um ataque do coração quando você goza de boa saúde. O medo do que poderá acontecer se o seu parceiro te abandonar, mesmo sendo boa a relação atualmente. O medo de falhar num exame, mesmo estando preparado para ele, etc.

O maior medo da humanidade é o ilusório. É esse o medo que devemos nos livrar. Como? Não é fugindo dele, mas encarando-o com claridade da mente. Aplicando claridade na mente e tendo conhecimento de como lidar com a situação que chega para você do tamanho que ela é.

Victor Sanches em “Ensinamentos de Don Carlos (Castañeda)”:


Convém fazer uma distinção, para fins práticos, entre emoções e sentimentos.

A distinção é bem mais simples do que se poderia supor, enquanto os sentimentos são uma reação natural ao fato de nos darmos conta, de percebermos, as emoções, por sua vez, são o produto não da percepção, mas do pensamento; da razão (que geralmente não é muito razoável no homem comum). Os sentimentos não são desgastantes, ao passo que as emoções o são em alto grau.

Os sentimentos básicos, alegria, tristeza, surgem do fato de dar-se conta.

Nosso corpo por exemplo, quando entrevê seu destino fatal, nos avisa por meio de uma tristeza ou melancolia que não é dolorosa nem desgastante, e sim nos deixa limpos de mesquinharias e nos faz bem.

Assim, também a alegria genuína, aquela que brota bem dentro, que não precisamos provocar artificialmente com piadas ou comédias, surge de um ato de dar-se conta que não passa pela razão, ocorre quando nosso ser percebe algo que o alegra.

Não precisamos pensar para sentir a felicidade por uma vida que nasce, que se movimenta, por uma caricia ou um olhar que nos abraça, por um beija-flor libando o néctar ou por uma árvore a dançar com o vento.
Já as emoções não surgem da percepção, mas do pensamento, não poderiam ocorrer se não pensássemos e, além disto, ao deixar a percepção em segundo plano, as emoções nos colocam em situação que dificilmente podermos lidar com a nossa realidade de maneira sensata.

Exemplos típicos de emoções são : ira, o ciúme, o rancor, a inveja, a autocompaixão, a depressão autodestrutiva, etc.

Nenhuma dessas emoções pode ocorrer se não tivermos previamente os pensamentos adequados. Quem pode zangar-se sem pensar?…Ninguém ! Para alguém zangar-se, primeiro é preciso falar consigo mesmo e dizer-se que o que lhe fizeram não foi justo, que não merecia, ou pensamentos semelhantes. quem não acreditar, tente zangar-se sem palavras ou pensamentos.

Segue Victor Sanches em “Ensinamentos de Don Carlos (Castañeda)”:

Consideremos o exemplo de um namorado que sente ciúmes porque viu a sua parceira conversar muito sorridente com outro homem. Esse é o fato simples: ali há uma mulher (a namorada) conversando com um homem (o desconhecido) e ela sorri. Por acaso esse fato provoca ciúmes? Não! O que produz a emoção desgastante do ciúme é o fato de o apaixonado em questão, a partir de sua “história pessoal”, seja porque viu muitos filmes, ouviu demais as “canções de amor” do rádio ou viveu o desamor de seus pais, ao ver a sua namorada conversando e sorrindo, começar a pensar de modo compulsivo a falar consigo, mentalmente, que ela não tem porque traí-lo assim, que a única pessoa a arrancar o sorriso da moça devia ser ele, que ele não a engana com outras mulheres ou pelo menos não o faz tão descaradamente, que ela o está desrespeitando, etc, etc.

Este tipo de pensamento e não os fatos em sí provoca essa dolorosa e desgastante experiência do ciúme.

Pouco importa no caso se a mulher estava conversando com um primo, se apenas batia um papo com um amigo ou se tinha mesmo outro amante, o ciúme não vem dalí, mas da cabeça do ciumento.

Assim que afundamos no acesso emocional, a realidade afasta-se cada vez mais; mais nos falamos, menos percebemos e assim por diante. Estando tão longe da realidade, como poderíamos lidar com ela? Naturalmente, violentamos e somos capazes de acabar com qualquer vestígio de amor ou beleza presente e ainda achar que somos vítimas. Assim acontece com os humanos, por isso vale mais lutar para virar um guerreiro.

Como o conjunto das nossas ações, as emoções também são repetitivas e estão determinadas pela “História Pessoal” . Desse modo, cada qual tem seus próprios “hábitos emocionais ” e estes serão uma das suas formas pessoais de esbanjar energia e enfraquecer. por isso, não é difícil descobrir, se fizermos um exame cuidadoso, que os conflitos e problemas emocionais da vida da gente se repetem ciclicamente. Não importa que mudemos pessoas e lugares, os problemas se repetem muitas vezes.

Tudo isto vale para as outras emoções, tão perniciosas e geradas da mesma forma.
Mas agora sabemos um segredo que, se usado na prática, é um tesouro de valor incalculável: as emoções não podem ocorrer sem pensamentos, e ainda, não podem ocorrer sem os pensamentos apropriados.

Isso nos coloca frente a frente com uma forma direta de economia de energia. Se estamos prestes a cair em alguma emoção desgastante, podemos simplesmente entrar num estado de Silêncio Interior e a emoção desgastante não poderá acontecer. Se esta alternativa está fora das nossas atuais possibilidades, mudemos então o conteúdo do diálogo interior; façamos uma canção com os nossos pensamentos, pensando neles em rima, de trás para frente, num idioma estranho, ou concentremo-nos por inteiro na taboada, ou alguma canção infantil, no caso tanto faz, sem os pensamentos apropriados, a emoção não se apresenta. 


fonte: Inatitude

Extraído do link: http://nemdeusesnemastronautas.blogspot.com.br/2011/04/andando-sobre-as-aguas.html