Por Kadu Santoro
Essa frase
paradoxal de Jung, apesar de ser pequena, possui profundos fundamentos para a
nossa vida, principalmente para nos posicionarmos em relação aos propósitos da nossa
existência.
Aqui no
ocidente, o conceito de sonhar está intimamente ligado a idéia de conquistar,
alcançar e atingir. Ações voltadas ao conceito de “posse” e de “ter”, essas que
no oriente não passam de meras ilusões (maya) da dimensão tempo x espaço e só servem
para levar sofrimento e angústia às pessoas, além de fazer com que tornem-se
mais apegados à matéria.
Sonhar
sempre estará ligado ao desejo, pode ser de coisas produtivas ou improdutivas,
conscientes ou inconscientes. Toda forma de sonho não passa de meros processos
mentais, ligados aos nossos desejos e anseios, sejam eles pessoais ou
coletivos, logo, é algo que é projetado para fora, para o exterior, faz o
processo platônico de conceber na dimensão das idéias aquilo que consideramos
ideal para a nossa realidade.
Muitas vezes
os sonhos são de fundamental importância em nossas vidas, mas para que isso
seja compreendido, é preciso que antes estejamos despertos de consciência.
O despertar
é a ação mais importante em nossas vidas, é através dele que passamos a
conhecer e entender sobre os verdadeiros propósitos da existência. O despertar
é o oposto do sonhar, pois esse nos liberta, coloca-nos na dimensão do
espírito, revela quem realmente somos e qual é o nosso verdadeiro fundamento
perante ao universo.
O processo
do despertar é inverso ao do sonhar, pois através dele passamos a olhar para o
nosso interior e assim, nos libertamos de qualquer desejo, pois ficamos diante
de nós mesmos, num verdadeiro encontro com o “ser”. É a verdadeira tomada de
consciência, esta que nos torna libertos de qualquer forma de ilusão.
Podemos
ilustrar esse paradoxo entre sonhar e despertar através de um título de um
artigo do teólogo Leonardo Boff que diz assim: “Jesus anunciou o reino mas o que veio foi a igreja”. Pois bem,
voltando às Sagradas Escrituras no Novo Testamento, lembramos que Jesus Cristo
através de sua mensagem nos deixou um grande legado sobre o que é despertar.
Toda eixo de sua pregação girava em torno de dois conceitos fundamentais - liberdade
e amor, esses que só são possíveis vivê-los plenamente se fomos despertos, pois
um leva ao outro, se conhecemos e entendemos o que é liberdade, logo saberemos
o que é o amor.
Para que
possamos atingir o despertar pleno, é preciso fazer o que Jesus disse: “Destruam esse templo, e em três dias eu o
levantarei” João 2.19. Isso significa se tornar liberto de consciência,
desperto plenamente, o número três representa manifestação, tudo é trino no
universo, e reconstruir o templo significa viver numa nova dimensão, onde os sonhos
não escravizam mais através da ansiedade de conquista e de “ter”. O indivíduo
passa a não viver mais segundo a observância religiosa, que é cega, porém, vive
a dimensão da liberdade fundamentada no amor, esse que não faz juízo e nem cria
barreiras entre as pessoas. A liturgia do desperto é a liturgia do coração,
aquele que vive entre o sagrado e o profano em pleno equilíbrio, tem
consciência de seus limites e da sua condição indigente nesse mundo,
respeitando o seu próximo e o amando cheio de misericórdia.
O filósofo
Sócrates despertou no dia em que leu o que estava escrito no alto do pórtico do
Oráculo de Delphos: “Conhece-te a ti
mesmo”. Faça você também essa experiência e viva em plenitude e paz de
espírito.