quinta-feira, 29 de abril de 2010

O movimento pietista alemão do século XVII


O movimento pietista surgiu na Alemanha na metade do século XVII, como uma nova reforma, mas agora, não contra os católicos, e sim contra a ortodoxia da escolástica protestante, que estava centrada fortemente na elaboração e sistematização da teologia nascente derivada de Lutero, em oposição ao movimento da contra reforma encabeçada pelos Jesuítas. A secularização da igreja e a preocupação puramente doutrinária do escolasticismo protestante, acabou acarretando uma estagnação espiritual, marcada apenas por um formalismo sistemático e vazio entre os cristãos reformados daquele período.

O primeiro grande líder do movimento pietista na Alemanha, foi o alemão Philipp Jacob Spener (1635-1705). Com base e grande influência da literatura mística de grandes expoentes da idade média, como o dominicano Johannes Tauler (1300-1361) e Meister Eckhart (1260-1327), Spener, entendeu que a ênfase na experiência, atribuia um caráter mais subjetivo a religião, para ele, era necessário um retorno à teologia viva dos apóstolos e da Reforma, com uma forte ênfase na pregação do evangelho, acompanhada do testemunho cristão de vida em santidade.

Decepcionado com a degradação moral e a decadência da religiosidade na sociedade alemã, Spener começou a formar grupos de leitura e oração, chamados de collegia pietatis (reuniões devocionais), onde os leigos cristãos se reuniam para trocar experiências e dedicarem parte do tempo orando juntos, sem qualquer formalidade e interferência da tradição da igreja, daí surgiu o nome dos pietistas, aqueles que frequentavam as collegias pietatis. Spener ficou mundialmente conhecido com a publicação da sua obra magna, chamada Pia Desideria, onde ele destacou quatro pontos fundamentais que marcaram definitivamente o início do movimento pietista: O primeiro ponto está relacionado ao caráter fundamental da experiência pessoal religiosa na vida do cristão, o segundo dá maior ênfase na doutrina bílbica, que deve ser transmitida continuamente, tanto de forma privada como pública, com muita responsabilidade pelos sacerdotes aos leigos, o terceiro ponto, frisa a preocupação com o desenvolvimento espiritual, bem como com a proclamação do evangelho e com a prática social de socorro aos necessitados, e o quarto ponto, que proclama a reforma da igreja, combatendo a sua letargia espiritual e suas práticas consideradas mundanas.

Um fato marcante do movimento pietista, foi a criação da Universidade de Halle por Spener e Auguste H. Francke (1663-1727), pois o grande lema do movimento, era o engajamento social, voltado para a criação de escolas e seminários, sempre tendo como paradigma, a experiência da “piedade do coração”. O movimento pietista influenciou fortemente muitos pregadores famosos como John Wesley e John Bunyan, além de todos os movimentos “revivalistas” dos séculos XIX e XX.

O valor da experiência pessoal e subjetiva para os pietistas em relação a religiosidade, se encaixava de certa forma, mais harmonizada com o espírito moderno, que tinha como prioridade a independência intelectual e espiritual, desejando o rompimento com qualquer tipo de tradição passada.

O piestismo chegou ao subjetivismo religioso por uma via “espiritual”, porém, pouco tempo depois, outros grandes protestantes e pensadores, como Immanuel Kant (1724-1804) e Friedrich Schleiermacher (1768-1834), que tinham uma formação pietista e estudaram em escolas moravianas, chegaram a mesma conclusão, só que por uma via “racional”. Para Paul Tillich (1886-1965), o pietismo foi o caminho para o iluminismo, o existencialismo e o pietismo sempre estiveram relacionados entre si.

O resultado da tensão entre a ortodoxia protestante a contra reforma e o subjetivismo pietista, trouxe à tona uma discussão, que veio marcar o período de transição da idade média para o período moderno, principalmente a inauguração posterior do período do Iluminismo. Para o movimento pietista, o critério último de avaliação da fé, deixou de ser a Palavra de Deus, passando a experiência individual (mística) a ter a prioridade, decorrendo daí um emocionalismo exacerbado e o surgimento de um número infindável de seitas, como de fato ocorre até nossos dias de hoje.

Kadu Santoro

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